CERAMISTA, ESCULTOR E FUNDADOR DA QUINTA VILA RACHEL
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
A produção arquitectónica, escultural e ornamental que a Oficina de Mármores de Almeida Costa (Almeida Costa & Rocha, a partir de cerca de 1880) e a Fábrica de Cerâmica das Devesas (Fábrica de Cerâmica e de Fundição das Devesas, a partir da primeira metade dos anos 80 do século XIX) realizaram para espaços cemiteriais inclui Capelas e Jazigos, Obras Religiosas e Profanas ( com cariz Simbólico e Alegórico e Retratos em estátua, busto ou medalhão em homenagem aos falecidos).
As capelas e jazigos de importância dos cemitérios românticos portugueses eram frequentemente encimadas ou ladeadas por estátuas alegóricas, sendo as mais comuns as que remetiam para as virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a Caridade. (1)
Também surgiam alegorias relacionadas com as actividades das pessoas a quem se destinavam as edificações funerárias, tais como o Comércio, a Indústria e as Artes, bem como as relativas aos Continentes onde elas se desenvolveram, assim como outras figuras de vulto alegóricas, como a Saudade, a Religião, a Gratidão, a Bondade, a Noite ou o Inverno (1)
Figuras de âmbito religioso, como os Cristos e os Anjos foram muito utilizados, estes em diversas versões: Anjos Adoradores, Anjos da Guarda, Anjos da Paz, Anjos do Senhor, Anjos do Silêncio, Anjos Indicadores. (2)
A Fábrica de Cerâmica das Devesas, produziu todas estas diversas figuras em terracota ou faiança, além de muitas outras, algumas em mais do que uma versão (2), pelo que naturalmente aparecem com frequência espalhadas pelos cemitérios portugueses, em particular no Norte, “com modelos de José Joaquim Teixeira Lopes. Em geral, estas estátuas têm boa qualidade, estando entre as mais interessantes de seu tipo na Europa”. (3)
(1) Queiroz, Francisco -“ A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910) :artistas e artifices”, pgs. 236, 237 in https://www.google.pt/search?q=A+escultura+nos+cemit%C3%A9rios+portugueses+(1835-1910)%3A+artistas+e+art%C3%ADfices&ie=utf-8&oe=utf-8&client=firefox-b&gfe_rd=cr&ei=dmlRWMWiFo6t8wfgopuYCg. página consultada em 12 de Junho de 2015
(2) Catálogo das Devesas de 1910
(3) Queiroz, Francisco – op.cit., pg. 238
20.1/ CEMITÉRIO DA LAPA
CAPELA DE ANTÓNIO RIBEIRO MOREIRA
Figuras moldadas por Teixeira Lopes em barro foram por vezes copiadas para pedra na Oficina de Mármores de Almeida Costa, eventualmente com pequenas diferenças de tamanho ou de pormenor, para ornamentar edificações em cemitérios da responsabilidade de Almeida Costa.
Concluída em 1863, a fachada da capela António Ribeiro Moreira está ornamentada com duas figuras alegóricas, junto de cada uma das colunas de suporte que enquadram a porta: “Bondade” e “Amizade” em pedra, que foram previamente modeladas em barro por Teixeira Lopes com dimensões e pormenores diferentes (1), que as viria a apresentar na Exposição da Academia Portuense de Belas-Artes -1866 (2) e a integrar no catálogo da Fábrica. (3)
Tratou-se de mais uma das várias colaborações entre Teixeira Lopes e Almeida Costa anteriores à criação da Fábrica Cerâmica das Devesas.
Deve questionar-se porque demorou Teixeira Lopes a expô-las? Teria acordado com Almeida Costa uma exclusividade, que perdeu sentido quando se tornaram sócios?
(1) Queiroz, Francisco – “La scultura nei cimiteri del Portogallo (1835-1910)” in “Lo splendore della forma...”, Luca Sossella Editore, 2014, pg.38, tradução do autor
(2) VER 28.EXPOSIÇÕES
(3) Catálogo das Devesas de 1910 (cat nºs 59 e 60)
20.2 CEMITÉRIO DE AGRAMONTE
Nota: todas as fotografias tiradas neste cemitério são da autoria de Luís Bicudo.
CAPELA DO DR JOSÉ PEREIRA DA COSTA CARDOSO (1831-1886)
Grandiosa capela em mármore, a maior deste cemitério, exemplar único pela sua configuração e riqueza arquitectural, escultural e ornamental, é uma homenagem de sua esposa a este Professor Catedrático da Universidade de Coimbra e Par do Reino, constituindo um conjunto artístico da maior valia, que merecia uma classificação patrimonial oficial, estando actualmente muito degradado.
Construída em 1888, foi integralmente realizada pela Fábrica de Cerâmica e Fundição das Devesas e pela Oficina de Mármores. Almeida Costa delineou o edifício e os escultores Teixeira Lopes executaram os elementos escultóricos.
De facto, o busto em mármore do Dr Pereira Cardoso, da autoria de José Joaquim Teixeira Lopes, que ornamenta a fachada por cima da porta, foi previamente modelado em gesso por seu filho António Teixeira Lopes, ainda estudante em Paris. (4) (5)
*Interior da Capela
O Calvário, com o “Cristo na cruz”, assinado e datado na base da mesma e “Madalena ajoelhada” a seus pés, ambos em bronze, sendo a cruz em granito, é também obra de José Joaquim Teixeira Lopes, sendo um conjunto raro nos túmulos portugueses do Romantismo. (6)
Os demais artefactos do interior, urnas em mármore, vasos em cerâmica, bem como os objectos em ferro (candelabros, portão e bandeiras em ferro) também são da autoria da Fábrica (7)
Não é, contudo, possível afirmar que as estátuas em bronze não tenham sido replicadas (pelo menos em barro cozido), já que o “Cristo na cruz” e a “Madalena ajoelhada” figuram no catálogo de 1910 da Fábrica das Devesas com os nºs 76 a 79, e 83, respectivamente. Infelizmente o catálogo não apresenta imagens destes itens, impossibilitando a sua comparação com as referidas estátuas em bronze
MAUSOLÉU DE ADRIANO DA COSTA RAMALHO (1836-1912)
Jazigo neogótico (cerca de 1877) em forma de baldaquino, encimado por uma estátua da Fé (em mámore), com a cruz partida, e suportado por colunelos formando arcos ogivais, com quatro estátuas alegóricas adossadas, também em mármore, colocadas sobre mísulas em nichos coroados por pequenos baldaquinos. Tendo Ramalho feito fortuna no Brasil, estas estátuas estarão relacionadas e com os continentes onde residiu (Europa e América), com a actividade de Ramalho (Comércio) e com uma estação do ano (Estio). As duas primeiras são cópias perfeitas de estátuas das Devesas; não assim para as duas últimas, que baseadas também em estátuas da Fábrica, exibem notórias diferenças relativamente às que lhes teriam servido de modelo. As quatro foram objecto de encomenda específica por serem em mármore, sendo que as duas últimas são versões alternativas às constantes de catálogo.
* “Fé” (cat. 51)
* “Europa” (cat. 22)
* “América” (cat.25)
*“Comércio” (cat.38) e “Agricultura” (cat. 35) - versões alternativas que não figuram em Catálogo)
JAZIGO DE EMÍLIA EDUARDA (1845 - 1908)
Este jazigo foi concebido pelo arquitecto José Teixeira Lopes e seu irmão António criou os dois bebés em bronze que ornam a sepultura e o busto em gesso da actriz, tendo cabido a José Joaquim Teixeira Lopes a transposição do busto da actriz para pedra. (8)
Este foi colocado em cima duma coluna também em pedra com aplicações alegóricas ao teatro e com o tronco amortalhado por uma capa de estudante, de acordo com o desejo de Emília Eduarda.
* Busto original em gesso, Casa-museu Teixeira Lopes
JAZIGO DE ABÍLIO MAGRO BESSA
É flanqueado por duas estátuas de Teixeira Lopes sustentadas por colunas das Devesas, representando um “Anjo Adorador” em barro cozido, em mau estado, faltando uma asa, e “A Noute”, também com defeito, em barro cozido branco (cat nºs 84 e 127).
BUSTO DO PADRE ALEXANDRE PINHEIRO (? - 1855)
Foi Director do Cemitério de Agramonte e Capelão , tendo levado a cabo a construção da capela funerária (9)
O busto em bronze é de Teixeira Lopes que o assinou (J. J. Teixeira Lopes) e datou (1896) . (10)
(4) Teixeira Lopes, António – “Ao correr da pena. Memórias duma vida” , 1968, Câmara Municipal de Gaia, pg. 706, conforme catálogo das obras segundo António Arroyo in “Soares dos Reis e Teixeira Lopes...”, Porto, 1899, pg 208
(5) Queiroz, José Francisco Ferreira – “ A escultura nos cemitérios portugueses (1835-1910) artistas e artifices”, pg 244, figura 10 legenda
(6) idem”, pg 237
(7) Portela, Ana Margarida – “A Fábrica de Cerâmica das Devesas – entre a Arte e a Indústria”, in "Fabrikart – Arte, Tecnología, Industria, Sociedad", Bilbao, Universidad del País Vasco, 2005, pg 99
(8) Lopes, José Marcel Teixeira – “Teixeira Lopes íntimo e a bela época de 1900”, dactilografado, s/ data, pg. 41
(9) Almeida, Marcelina das Graças - “A cidade Invicta e os espaços de enterramento: apontamentos bibliográficos”, pg. 7 in www.geocities.ws/adarantes/textos_marcelina/3.dod. /. página visitada em 12 de dezembro de 2016
(10) Lopes, José Marcel Teixeira – “Teixeira Lopes íntimo e a bela época de 1900”, dactilografado, s/ data, pg. 42
20.3 CEMITÉRIO DO PRADO DO REPOUSO
“Caridade” (1)
“Calvário” em bronze na capela de Emília Cabral (2)
(1) (VER 10. MAUSOLÉU CAMPEAM)
(2)Leão, Manuel – “A Arte em Vila Nova de Gaia”, ed. Fundação Manuel Leão, pg. 129