CERAMISTA, ESCULTOR E FUNDADOR DA QUINTA VILA RACHEL
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
Alguns aspectos da vivência íntima da família Teixeira Lopes foram registados, quer pelo filho António, quer pelo neto José Marcel, que foram testemunhas oculares fidedignas e participativas, bem como por Ramiro Mourão.
Teixeira Lopes, constatando que seu filho António tinha dificuldade em aprender na escola, comprou-lhe o “Manual Enciclopédico” e passou a levar o garoto consigo para o ateliê da Fábrica, para o ensinar sempre que tinha tempo disponível.
“Quando ao resto da tarde, voltávamos para casa, servia-se a ceia e, logo em seguida, meu pai deitava-se, sendo sempre muito regular e pacato em todos os seus hábitos”.
Habitualmente, Teixeira Lopes chamava um dos filhos, António ou Adelaide, para trazerem o “Livro”, como ele designava a Bíblia, e lerem em voz alta alguns trechos. Estávamos em meados dos anos 70 do século XIX. (1)
“A casa de meus avós era junto ao atelier de meu Tio (António) (2) e n’esse tempo (cerca de 1905 a 1910) era uma espécie de lar de todos os que vinham de S. Mamede de Riba Tua para tratamento no Hospital, ou para qualquer outro fim. A mesa quasi não se levantava e todos os que nos visitavam, partilhavam conosco, quer fossem à hora do almoço ou do jantar. Tempos que já lá vão, de grande fartura; essa hospitalidade era transmontana” (sic). (3)
“É como se um verdadeiro lar de S. Mamede de Ribatua tivesse sido transplantado para a Bandeira de Baixo com todas as características da sua acolhedora hospitalidade”. (4)
* Factura de carne comprada por Teixeira Lopes, (Colecção do autor)
“Meu avô era um pai à moda antiga, impondo o maior respeito e no seu intimo, dum afecto extremoso! Muitissimo cultivado, foi com ele que aprendi rudimentos de latim que me obrigava constantemente a declinar nos tão pouco atraentes estudos do liceu. Tocava flauta e eu que o acompanhava ao piano e cautela que não seguisse os compassos rigorosamente, se não era mais que certo repreender-me! (sic) (3)
“...recordo minha avó, a mulher sublime, a dedicada esposa que a seu lado lutou e sofreu, aliviando-lhe quanto pôde o pesado fardo da vida!” (3)
O escultor nunca descurou a área instrutiva em geral, através dum autodidactismo, que se concretizou em leituras de livros dos mais variados temas e que lhe permitiu atingir uma sólida cultura, que muito o beneficiou. Muitos desses livros ainda estão na posse da família.
A título de exemplo, apresenta-se um curioso livro “ Diccionario da Fabula”, não datado, com a seguinte inscrição à direita : “Fontes oferece ao seu amigo J. J. Teix.ra Lopes”. Este Fontes seria o futuro sogro de António Teixeira Lopes, que escreveu à esquerda: “ Pertence a A. Teixeira Lopes que o herdou de seu pae”.
* Colecção do autor
CORRESPONDÊNCIA
* Fragmento de carta de Adelaide que também assina pelo marido Albino Barbosa, para Teixeira Lopes, seu pai (1902), (Colecção do autor)
* Postal (frente e verso) de Teixeira Lopes para seu neto José Marcel (1915)
* Carta de Almeida Costa para Teixeira Lopes (1904)
* Carta de Teixeira Lopes para o caseiro (1906)
(1) Lopes, António Teixeira – “Ao Correr da Pena Memórias duma Vida”, ed. em 1968 pela Câmara Municipal de Gaia, pgs. 3,4
(2) Requerimento de José Joaquim Teixeira Lopes à Câmara de Vila Nova de Gaia (1904) no Arquivo de Gaia, Cota: C/E 10 Cx 2, Doc 45
(3) Lopes, José Marcel Teixeira – “Teixeira Lopes íntimo e a bela época de 1900”, dactilografado, s/ data, pgs. 10,11
(4) Mourão, Ramiro – “Exposition de Travaux de Teixeira Lopes (père), sculpteur et céramiste”, Edition des Amis du Monastère de La Serra do Pilar (1933), pg. 16 - (versão francesa manuscrita, tradução de responsabilidade do autor)