JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
Em 1859, Teixeira Lopes inscreveu-se na Academia Portuense das Belas Artes, onde aprendeu desenho durante quatro anos com o Professor João António Correia (1822 - 1896).
* João António Correia auto-retrato c. 1850, óleo sobre tela (Museu Nacional Soares dos Reis, Porto)
Mestre de desenho de nomeada e reconhecido talento, litógrafo e reformador oficial do ensino artístico portuense, encorajou muito Teixeira Lopes (1)
A partir de 10/12/1857 exerceu a docência como Professor Proprietário de Pintura Histórica na Academia Portuense das Belas Artes (2), para a qual foi designado seu Director a partir de 25/10/1882 até ao seu falecimento em 1896. (3)
Teixeira Lopes foi igualmente aluno de Francisco José Resende (1825 -1893) na Academia Portuense de Belas Artes, pintor do Romantismo que foi discípulo de Auguste Roquemont e regeu algumas cadeiras daquela Escola. Também realizou algumas esculturas. (4)
* Francisco José Resende auto-retrato 1860, óleo sobre tela (Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto)
Em 16 de Julho de 1862, este lente de pintura da Academia regozijava-se de "ter sido seu (de Teixeira Lopes) mestre todas as vezes que" fora "chamado para reger a aula do nú" e "já então" reconhecia "a sua intelligencia e á vista dos estudos que o mesmo artista esculpia sobre barro pelo modêlo vivo" tinha "desejo de o fazer conhecido do público".
Aliás, em 1873, José Joaquim era ainda considerado como "um aluno exemplar da Academia Portuense de Belas Artes (5)
A primeira referência a Teixeira Lopes no âmbito da Academia Portuense de Belas Artes surge em 31 de Agosto de 1860: “O concorrente aos prémios de esculptura José Joaquim Teixeira Lopes não apresentou o grupo de “Theseu e Ariadne” e por isso ficou excluído do concurso”. (6)
As razões que originaram tal ocorrência devem estar relacionadas com o período difícil que Teixeira Lopes estava a atravessar, já que passou a estudar de dia e a trabalhar à noite. Para poder sustentar a crescente família, moldava pequenas figuras de barro que ele modelava, cozia e pintava, bem como esculpia em madeira imagens religiosas e figuras profanas, que sua mulher vendia nas feiras de Matosinhos e de Gaia e que também os adeleiros, capelistas e louceiros do Porto lhe compravam por preços baixos.A receita obtida era parca, mas constituía “ o necessário para que não faltem na casa nem o pão nem a sopa” (7) (8)
Para além das criações destinadas a feiras, de venda mais fácil e imediata, Teixeira Lopes ambicionava ir mais longe no campo artístico e entre 1861 e 1864, data da ida para Paris, criou estátuas, bustos e medalhões. (VER 21. BUSTOS E OUTRAS ESCULTURAS)
Em 1862 (ou talvez até antes), Teixeira Lopes iniciou uma proveitosa colaboração com Almeida Costa, na oficina deste, que se explicitará e que mereceu elogios. (9)
Teixeira Lopes criava modelos em barro, destinados às capelas funerárias produzidas por Almeida Costa, que seriam copiados para pedra pelos empregados da oficina de mármores, mantendo Teixeira Lopes a propriedade desses modelos, destinados a futura replicação.
Esta colaboração estendeu-se também a parcerias em monumentos públicos adjudicados a Costa, em que Teixeira Lopes era o responsável pela estatuária, como se verá.
Colaborou ainda com a Fábrica de Cerâmica de Santo António de Vale Piedade, no tempo de João do Rio Júnior, provavelmente a partir de cerca de 1860, à semelhança do que sucederia com Soares dos Reis (10), modelando estátuas, em especial alegóricas, que cederia temporariamente e sem exclusividade à Fábrica Cerâmica de Vale Piedade, para reprodução em faiança. Mais tarde, os moldes seriam integrados no património das Devesas. São exemplos a “Amizade” (cat. 60) e a “Bondade (cat. 59). (11)
(VER 19. ESTATUÁRIA DIVERSA- Fábrica De Santo António De Vale Piedade)
* “Amizade” estátua da Fábrica de Stº António de Vale Piedade (cat. 60) (inc.)
A superior qualidade das esculturas de Teixeira Lopes não foi suficiente para dar um novo ímpeto a Vale Piedade, uma vez que a cedência de modelos terá sido episódica e pouco diversificada, e se manteve em paralelo com as já pertencentes à fábrica. Por isso, não admira que a clientela rapidamente passasse a encomendar à Fábrica Cerâmica das Devesas, cujas peças eram bem mais caras, mas incomparáveis em termos de qualidade.
É bem possível que Teixeira Lopes cozesse as suas peças de barro na Fábrica de Cerâmica de Vale Piedade, dado que só mais tarde viria a dispor de instalações e equipamentos adequados.
(1) Mourão, Ramiro – “Exposition de Travaux de Teixeira Lopes (père), sculpteur et céramiste”, Edition des Amis du Monastère de La Serra do Pilar (1933), pgs. 8b, 9 (versão francesa manuscrita, tradução de responsabilidade do autor)
(2) A.F.B.A.U.P. – Livro de Actas das Conferências Gerais da Academia (Out. 1842 – Out. 1896). Acta da Conferência Geral de 3 de Junho de 1857, p. 21
(3) https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20-%20jo%c3%a3o%20ant%c3%b3nio%20correia. / página consultada em 21 de Outubro de 2015
(4) idem (3)
(5) Portela, Ana “dunas, temas & perspectivas revista anual sobre cultura e património da região de Ovar”, edição Câmara Municipal de Ovar, 2004, pg.67
(6) A.F.B.A.U.P. – Livro de Actas das Conferências Gerais da Academia (Out. 1842 – Out. 1896). Acta da Conferência Geral de 31 de Agosto de 1860, pg. 26.
(7) Mourão, Ramiro, op. citada pg.9.
(8) Teixeira Lopes dixit, citado por Ramiro Mourão, op. citada, pg.9.
(9) ) Leão, Manuel – “A Arte em Vila Nova de Gaia”, Fundação Manuel Leão, 2005, pg. 116
(10) Sousa, Laura – “A Fábrica de Louça de Santo António de Vale Piedade, em Gaia: arquitectura, espaços e produção semi-industrial oitocentista” - Dissertação de Mestrado, 2013, pg.62
(11) Queiroz, Francisco – “Os Catálogos da Fábrica Cerâmica das Devesas”, Chiado Editora, 2016, pg. 56