Sistemas biodiversos
A Agrofloresta é o sistema usado pelos Humanos desde o advento da Agricultura quando misturavam vários tipos de culturas para suprirem as suas necessidades diárias. Existe inclusivamente em todos os continentes mundiais diversos exemplos estudados de sistemas agroflorestais para enriquecer a agricultura de cada região por onde o Homem passou.
Ao revés disso, a prática da monocultura é muito recente e foi criada para intensificar o meio de produção de modo a optimizar custos através de economia de escala. A importância de fazer Agrofloresta nos dias actuais é enorme. Num Mundo que está a ser completamente assolado com práticas de monocultura intensiva levando ao desmatamento e desflorestamento descontrolado de florestas vitais para a saúde do nosso planeta, os sistemas agroflorestais aparecem como sendo a melhor solução para controlar os danos causados pela agricultura intensiva.
Anteriormente num dos nossos artigos falamos ao pormenor das graves consequências para o meio ambiente de utilizar práticas de monocultura. Neste artigo vamos abordar o porquê da importância em praticar o seu oposto, a Agrofloresta.
"Nós não somos os inteligentes, fazemos sim parte de um sistema inteligente". Esta frase pronunciada pelo Agricultor Suíço Ernst Goestch descreve em poucas palavras o que significa a Agrofloresta. Enquanto que num sistema de Monocultura o Agricultor pretende controlar ao limite tudo o que se passa na sua exploração como se fosse o seu Autor, na Agrofloresta o Agricultor reconhece que não é o Autor desse sistema, mas sim uma espécie de intermediário. Ele reconhece que o Autor deste sistema de agricultura é a própria Natureza e é por isso necessário observar e entender as suas normas e como se rege, para desta forma em parelelo poder tirar o máximo de partido desse sistema na criação de alimentos e outros recursos. Enquanto que na Monocultura o Agricultor explora até ao limite os recursos naturais, na Agrofloresta o Agricultor toma de empréstimo e devolve à Natureza com lucros. E como é isso possível? Simplesmente porque os sistemas Agroflorestais são sistemas sustentáveis circulares, sendo que todas as suas práticas promovem um fortalecimento deste círculo, de forma a que o que sai da terra volte a entrar em maior quantidade do que saiu.
Veja-se por favor exemplo o caso da Monocultura. O Agricultor retira, retira, retira até não dar mais, e quando chega a esse ponto de exaustão começa a aplicar na terra fertilizantes que são automaticamente absorvidos pelas plantas, destruindo por completo a função do solo como fonte de nutrientes. Desta forma, e em última análise, o solo passa a ser praticamente uma estrutura apenas de apoio físico à planta, perdendo por completo toda a sua função de fornecedor de nutrientes. (1) No caso da Agrofloresta, o ciclo é fechado. O Agricultor compreende que o sistema onde vai plantar é parte integrante de uma rede imensa de simbioses e vida entre as várias plantas, e adapta a sua cultura a este sistema de forma a tomar partido da função real do solo, que é a de proporcionar alimento às plantas. Desta forma o Agricultor respeita toda a rede de micróbios que existe no solo e que são os principais intervenientes para podermos ter alimentos nutritivos, saudáveis e sem explorarmos de forma cega o solo terrestre.
O grande elemento promotor de um sistema Agroflorestal é sem dúvida a Biodiversidade. Cada planta vive para a próxima e cada uma tem uma função bem explícita no sistema inteligente em que vivem. Cada vez mais surgem estudos científicos a abordar este tema e por isso na Agrofloresta se tira o máximo de partido em preservar este ecossistema. (2)
Esta questão da biodiversidade torna-se muito séria especialmente quando temos em conta que, segundo dados da FAO (3), 75% dos alimentos que comemos mundialmente é originado apenas de 12 tipos de plantas e 5 animais. Como a monocultura se especializa num modelo limitado é natural que resultados como estes apareçam.
Para além de tudo isto a Agrofloresta irá ter uma enorme importância nos anos vindouros pois está mais que visto que o modelo da monocultura intensiva proveniente da chamada Revolução Verde não está a dar respostas positivas do ponto de vista ambiental. Inclusivamente a Organização das Nações Unidas ( ONU ) tem vindo a fazer campanhas globais para incentivar a expansão de projectos Agroflorestais como modo principal de produção de comida para estabelecer um nível apropriado de segurança alimentar, isto principalmente numa altura em que a população mundial não pára de crescer. (4)
Segurança alimentar não significa apenas que as pessoas tenham alimentos suficientes para se alimentarem. Significa também que esses mesmos alimentos conseguem providenciar toda a miríade de nutrientes que o nosso corpo precisa. Ora este é um problema grave que está a suceder principalmente nos países mais pobres. Antigos agricultores que praticavam policultura agroflorestal e que entraram na onda industrial da monocultura, passaram a plantar apenas uma cultura alimentar quando antes teriam mais de uma dezena diferentes. Com o tempo esta gente começou a sofrer de défices nutricionais pois a variedade alimentar passou a ser menos diversa. (5)
É por isso urgente que o sistema mundial de agricultura e alimentação se transforme e passe de um modelo especializado, industiral e monoculturalpara um modelo biodiverso, agroecológico e agroflorestal.
por
Tiago Cartageno
Proprietário da Quinta Vila Rachel
(1) https://extension.oregonstate.edu/news/heres-scoop-chemical-organic-fertilizers
(2) https://www.researchgate.net/publication/324503153_Fungal_Biodiversity_and_Their_Role_in_Soil_Health
(3) http://www.fao.org/3/y5609e/y5609e02.htm