Há duas formas de fazer agricultura neste mundo. Uma apenas exploradora e a outra exploradora e regenerativa. Na Quinta Vila Rachel todas as práticas agrícolas têm como objectivo principal a regeneração do solo, ou seja aquilo que extraímos do solo será devolvido com juros de forma completamente natural e sustentável.

Para nós a prática de fertilização é o aspecto fulcral para conseguirmos ter colheitas saudáveis e nutritivas. Por isso não usamos qualquer tipo de fertilizante artificial para adubar as nossas culturas. Como alternativa usamos uma técnica que consideramos ser a base de toda a nossa agricultura: cobertura de solo ou “mulching”. (1) (2) Esta técnica bem realizada consegue proprocionar todos os nutrientes que a cultura precisa para ser produtiva e nutricionalmente rica.
Desta forma cobrimos o solo de todas as nossas árvores e plantas com todo o tipo de biomassa existente na nossa propriedade, desde folhas secas até restos de podas das árvores circundantes. Este processo pode ser feito de três formas diferentes: 

• por trituração - colectamos todo o material vegetativo de grande volume que há pela Quinta e trituramos num biotriturador, para depois distribuir para cobertura de solo
• por compostagem - muitas vezes deixamos pequenos montes de biomassa a compostar de um ano par ao outro. Quando reparamos que a biomassa já se encontra desfeita em pó, distribuímos pelo solo das nossas culturas
• por poda directa - muitas vezes fazemos podas directas de ramos de árvores, com recurso à catana, e com ela aplicamos estas podas junto à base da árvore ou planta que queremos adubar. Este processo é feito de forma a que a biomassa esteja o mais possível junto ao solo para começar facilmente o processo de compostagem .

Usamos material de podas Oliveiras, Medronheiros, Videiras, Sobreiros, Azinheiras, Pinheiros, entre muitas outras.

Temos também três zonas especiais da Quinta onde fazemos uma espécie de controlo de infestantes com recurso a esta poda. Nessas zonas nascem três árvores que são consideradas espécies invasoras em Portugal, a Acácia-mimosa, a Arundo Donax ( vulgo Cana ) e a Ailantus. Todas elas crescem muito rápido, e se não houver um controlo poderão invadir por completo o território de outras culturas. Por isso em vez de tentarmos exterminar completamente estas três árvores, algo que já tentamos no passado e não conseguimos, decidimos estrategicamente juntarmo-nos a elas. Quer isto dizer que deixamos as árvores crescer o mais possível sem perturbar as nossas culturas principais, e quando estiverem no ponto certo, cortamo-las com o intuito de usar essa biomassa para fertilizar as culturas. Especificamente a Acácia-mimosa é um fixador de azoto no solo, sendo por isso uma árvore de enorme valor para outras culturas. Aproveitamos desta forma o seu crescimento rápido para nos proporcionar biomassa em boas quantidades.

A cobertura do solo que fazemos é no fundo uma cópia do que já acontece nas florestas de forma completamente natural, e é muito importante principalmente pelos seguintes factores:

• Protege as raízes da árvore/planta contra o excesso de sol directo.
• Preserva a humidade no solo junto ás raízes.
• Não permite o crescimento de ervas competidoras por nutrientes junto à àrvore/planta.
• Proporciona a criação de toda uma cadeia alimentar que irá beneficiar a àrvore/planta com nutrientes, atraindo bactérias, fungus, nematódes, protozoários, minhocas, entre muitas outras formas de vida.
• A sua compostagem vai ajudar a melhorar o solo onde a cultura está instalada através da produção de humus.
• Ajuda a evitar a erosão do solo, pois a chuva já não baterá directamente em solo com terra nua, e por isso já não ocorrerá uma desintegração rápida do mesmo.

As minhocas especificamente são seres vivos fundamentais para podermos ter um solo rico em nutrientes. Através dos seus excrementos a árvore/planta será alimentada por três nutrientes fundamentais, o nitrogénio (3), o fósforo (4) e o potássio (5). Ao mesmo tempo a minhoca com a sua actividade cria pequenos túneis no solo, fazendo com que o solo não fique compacto, proporcionando uma melhor movimentação de água e nutrientes até à raíz da planta/árvore. (6)

por
Tiago Cartageno
Proprietário da Quinta Vila Rachel

(1) https://research.libraries.wsu.edu:8443/xmlui/bitstream/handle/2376/5262/FS160E.pdf?sequence=2

(2) https://www.sciencedirect.com/topics/agricultural-and-biological-sciences/mulches

(3) https://www.nature.com/articles/srep06365

(4) https://www.researchgate.net/publication/40783737_Effects_of_Earthworms_on_Phosphorus_Dynamics_-_A_Review

(5) https://link.springer.com/article/10.1007/BF00395467

(6) https://www.nrcs.usda.gov/wps/portal/nrcs/detail/ks/newsroom/features/?cid=stelprdb1242736