JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
*foto de Luís Bicudo
A ideia da construção do hospital de alienados deve-se a D. Pedro V, que referiu ao Conde a premência de criar um no Porto, conforme é atestado por Domingos de Almeida Ribeiro, redactor do testamento do Conde, onde este consignou uma importante verba para a sua concretização (678 000 réis). (1)
O Hospital, que recebeu o nome do benemérito que o custeou, foi projectado por Manuel de Almeida Ribeiro, professor de arquitectura civil da Academia Portuense de Belas-Artes, embora modificações ao plano inicial tenham ocorrido no decurso da construção, tendo sido seu primeiro Director o Dr. António Maria de Sena, que também elaborou a primeira lei psiquiátrica em Portugal, a chamada Lei Sena. (1)
“Foi a primeira construção de raiz feita para a Psiquiatria em Portugal”. (1)
“Foi encarregado de fazer a estátua colossal do Conde Ferreira, que tem de coroar a fachada do hospital de alienados, o Sr. José Joaquim Teixeira Lopes, habil esculptor portuense, que fez a de D. Pedro V para a praça da Batalha e a de Passos Manoel para o cães de Mattosinhos. A estátua será feita da mármore de Carrara” (sic). (2)
Em 1877, no dia da romaria do Senhor da Pedra em Miramar, a Fábrica Cerâmica das Devesas abriu as suas instalações ao publico: “Entre as obras que alli se vêem offerece-se à attenção dos visitantes a estatua em marmore do fallecido Conde Ferreira. Esta estatua mede de altura 2m,85 e de largura 1m,15 e é feita pelo distincto artista o snr. José Teixeira, um dos proprietarios d’aquella fabrica. Esta estatua é destinada ao hospital dos alienados d’esta cidade”. (3)
“A estátua esteve exposta juntamente com uma colecção de figuras pequenas de costumes”. (4)
A revista “Occidente” de 21 de Abril de 1883, insere uma referência ao “hospital de alienados do Conde Ferreira”, cuja inauguração ocorrera em 24 de Março, descrevendo a sua configuração e realçando que a sua “fachada é de uma simplicidade elegante e harmoniosa, coroando-lhe o frontão a estátua do fundador, de mármore de Carrara, trabalho do apreciado esculptor Teixeira Lopes”. (5)
* Hospital de Alienados do Conde Ferreira no Porto. Editor: Alberto Ferreira, Série: Série Geral, Postal: nº. 8
Trata-se da estátua do Conde Ferreira da autoria de Teixeira Lopes, que não deve ser confundida com a que Soares dos Reis esculpiu, também em mármore, para o jazigo do Conde no Cemitério de Agramonte. (6)
Em 1901/2, a estátua foi transferida para o centro do terreiro de entrada do hospital, local onde existia um lago, e colocada em cima dum pedestal de mármore, obra do filho de Teixeira Lopes, Arquitecto José Teixeira Lopes (7).
É a Santa Casa da Misericórdia do Porto que vem estabelecer confusão com Soares dos Reis num Relatório dos Actos da sua Mesa (1901-02) (8), o que se afigura estranho, já que a Misericórdia reconhece a autoria correcta no seu sítio da Internet (1) e é também possuidora dum busto de Teixeira Lopes representando o Conde, que foi muito provavelmente um estudo para a citada estátua. (9)
* foto do autor
Em todo o caso, esta errada atribuição (que ainda hoje ocorre) redunda num elogio a Teixeira Lopes, que produziu uma obra de arte aparentemente digna de um Soares dos Reis.
Não foi a única situação em que uma obra de Teixeira Lopes foi atribuída a Soares dos Reis; seu neto José Marcel afirma: “…bronze do Padre Alexandre Pinheiro (em Agramonte)…com uma extraordinária patine do tempo e tão belo é que um critico de arte pensou ser de Mestre Soares dos Reis, mas eu tirei-lhe as dúvidas mostrando-lhe a assinatura José J. Teixeira Lopes 1894”. (10) (VER 20.2 CEMITÉRIO DE AGRAMONTE)
É curioso notar que as estátuas representando o Conde Ferreira de Soares dos Reis e de Teixeira Lopes foram feitas entre 1876 e 1877 com base em retratos do já há muito falecido homenageado (1866).
(1) http://www.scmp.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=19169 / página consultada em 2 de Fevereiro de 2012 (actualmente eliminada)
(2) “Diário do Rio de Janeiro”, de 3 de Dezembro de 1875
(3) “O Commercio do Porto”, nº 169 de 22 de Maio de 1877
(4) Leão, Manuel - “A Arte em Vila Nova de Gaia”, Gaia, edição da Fundação Manuel Leão, 2005, pg. 128
(5) “Occidente” nº 156, de 21 de Abril de 1883
(6) Actualmente está exposta no Museu Soares dos Reis, tendo sido colocada no jazigo uma réplica em bronze.
(7) Tradição oral familiar
(8) Pereira, Pedro Teixeira e outros - “A Alienação no Porto: o Hospital de Alienados do Conde de Ferreira (1883-1908)” in História, Revista da Faculdade de Letras do Porto, III série, vol 6, 2005, pg. 101, nota 10 de rodapé”.
(9) http://www.scmp.pt/pageGen.asp?SYS_PAGE_ID=906264
(10) Lopes, José Marcel Teixeira – “Teixeira Lopes íntimo e a bela época de 1900”, dactilografado, s/ data, pg. 42