JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
Em 4 de Março de 1394 nasceu no Porto o Infante D Henrique, que idealizou e lançou a epopeia dos descobrimentos marítimos portugueses.
Por ocasião do 5º centenário do seu nascimento, foi decidido erigir-lhe um monumento que homenageasse condignamente o talvez mais ilustre portuense de sempre.
Em 1 de Fevereiro de 1894, uma circunstanciada crónica de Manoel Rodrigues elencava e criticava com minúcia as candidaturas apresentadas a concurso para a edificação do monumento ao Infante. (1)
Os projectos, todos de artistas credenciados, constam das imagens seguintes, sendo que o de Adães Bermudes ficou fora do concurso: (1) (2) (3)
* “Invicta”, escultor Tomás Costa – desenho apresentado a concurso e o monumento construído
* “1394-1894”, arquitecto Ventura Terra – desenho
* “Luzitania”, arquitecto Marques da Silva, escultor António Teixeira Lopes - relevo (4)
* “Sagres”, escultores José Joaquim Teixeira Lopes e António Teixeira Lopes - relevo
* fotografia a preto e branco, colecção do autor
* “Por mares nunca dantes navegados”, escultor António Teixeira Lopes - relevo
* “Ad gloriam”, arquitecto Adães Bermudes – desenho
Os membros do júri escolheram o primeiro projecto, “Invicta”, mas impondo tais alterações que os tornam uma espécie de “ co-autores” do monumento! (5)
Basta comparar o desenho do monumento apresentado com o que efectivamente foi edificado para constatar que a estátua do Infante é completamente diferente !?
Grande celeuma se gerou naturalmente, que se estendeu ao Brasil, como se pode constatar pelo extenso artigo publicado por A. Marco na “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro (6)
Houve várias demonstrações de apoio ao projecto de António Teixeira Lopes, o preferido de muitos. (7)
Neste contexto, José Joaquim Teixeira Lopes, António Teixeira Lopes e Ventura Terra protestaram, com três fundamentos que apresentaram (8) :
Foi declarado o nome do escolhido previamente à publicação do resultado do concurso; houve colaboração assumida de um arquitecto estrangeiro, tendo o Professor Marques Guimarães afirmado que a parte arquitectónica do projecto vencedor não era obra de Tomás Costa, mas sim do dito estrangeiro, que ninguém nomeou e que era um grande aguarelista; finalmente, a escala do projecto apresentado por Tomás Costa não obedecia às normas do concurso.
O colaborador de Costa foi identificado como sendo o arquitecto Cesar Janz, que não apresentou qualquer desmentido. (9)
Este protesto, malgrado a sua evidente pertinência, não foi acatado pelo júri do concurso, não tendo, portanto, consequências. Interessando principalmente referir aqui o projecto conjunto dos Teixeira Lopes, pai e filho, não se inserem mais detalhes, quer dos outros projectos concorrentes, quer das críticas que rodearam o concurso.
O projecto conjunto de José Joaquim Teixeira Lopes e de seu filho António Teixeira Lopes tinha por divisa “Sagres”.
Nele, o Infante, que usa uma veste comprida e o tradicional chapéu, está sentado de perna cruzada, com um mapa sobre os joelhos, a mão esquerda apoiando o rosto, com ar meditabundo.
A estátua da “Inspiração” aparece também sentada, na parte posterior, não sendo, assim, visível na imagem acima apresentada. Em cima do pedestal, surge um grupo (representando o Génio das descobertas, segundo a interpretação de Manoel Rodrigues). As proas de dois barcos surgem de trás da base do monumento, com as velas drapejantes.
Segundo o articulista, “a figura do infante, se bem que tenha uma atitude pouco monumental, não deixa de apresentar certa expressão. Muito melhor do que esta porém, é a estatua da Inspiração, que apresenta modelação mais inspirada e uma graciosidade de contornos que seduz. Quanto ao grupo que encima o pedestal, se bem que muito decorativo e de um aspecto attrahente no seu conjunto não nos satisfaz...”
Manoel Rodrigues é muito radical nas suas opiniões, passando do elogio de alguns aspectos do projecto à severa crítica negativa de outros, de forma bastante contundente. (10)
* Julgamento dos projetos para o monumento ao Infante Dom Henrique (sátira)
Terminado o concurso, António Teixeira Lopes e Ventura Terra apresentaram uma nova proposta conjunta que ofereceram à Câmara do Porto. (11)
A rainha D. Amélia, que visitou atentamente a exposição agrícola e industrial de Gaia, que se realizou também em 1894, em particular a secção de artes, considerou como “esplendido e muito suggestivo”(sic) tal projecto, cuja maquete figurava na exposição. (12)
O projecto vencedor de Tomás Costa foi erigido, apesar da forte contestação que desencadeou, tendo a primeira pedra sido colocada pelo rei D. Carlos em 4 de Março de 1894, que também inaugurou o monumento em 20 de Outubro de 1900. (13)
“Bibliografia Henriquina”, vol I, pg. 11, 1960, edição da Comissão Executiva das Comemorações do 4º Centenário da Morte do Infante D. Henrique
Firmino, Pereira “Centenário do Infante D. Henrique”, Editores Magalhães & Moniz, Porto, Março de 1894, pg. 167
http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=1004307
página consultada em 5 de Agosto de 2015