JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
NOTA: Quando as fotografias de estátuas que serão apresentadas mostrem exemplares incompletos ou com falhas (o que ocorre com frequência, sobretudo em peças no exterior sujeitas a intempéries) a sua designação será seguida de (inc) ou da descrição das falhas.
* Foto Leiloeira S. Domingos
Durante o século XIX, mas mais intensamente na sua segunda metade, tornou-se moda em Portugal coroar as platibandas das casas com estátuas e vasos cerâmicos ou de pedra, que funcionavam como elementos arquitectónicos decorativos, que cortavam alguma monotonia que por vezes reinava, principalmente em mansões de grande dimensão. Serviam também para valorizar as fachadas das casas da burguesia enriquecida, por vezes recém-“abaronada”, servindo como símbolo do seu poder e estatuto social.
Igualmente, muitos jardins foram engalanados com este tipo de peças.
Esta tendência, que é característica do Romantismo então reinante, foi também muito importante no Brasil, onde a burguesia nobilitada foi muito pródiga em pontuar os seus imponentes casarões com estátuas e outras peças, oriundas inicialmente da Fábrica de Santo António de Vale Piedade de Vila Nova de Gaia, maioritariamente.
Os ditos “brasileiros de torna viagem” tiveram um importante papel nesta difusão, transportando para Portugal esse gosto, que aplicavam, por vezes de forma excessiva, nas casas que mandavam erigir na sua terra natal. Mas, esta influência existiu nos dois sentidos.
Quando surgiu a Fábrica Cerâmica das Devesas, a qualidade superior das suas produções, que se pautavam em geral pelo corte com a tradição mais académica dominante, de certo modo anunciando uma tendência naturalista que se viria a afirmar no futuro, em que a rigidez e estaticidade dos personagens e respectivas vestes se atenua, a favor duma maior liberdade expressiva e dinamismo corporal, bem como a rejeição de modelos “imutáveis”, a par duma evidente vontade de aperfeiçoamento das estátuas, que passam a ser encaradas como verdadeiras obras de arte, mesmo que multiplicadas em série, e não como meros objectos decorativos, por vezes de duvidosa valia artística.
Esta era a visão de Teixeira Lopes, um verdadeiro artista, um escultor que, apesar de ter abraçado a indústria, nunca deixou de pugnar por elevar os seus padrões artísticos, ideal que conseguiu transmitir aos seus alunos e subordinados, formando escultores e modeladores, numa verdadeira escola de arte.
Certamente, esta atitude tornou as peças bem mais caras do que as oferecidas pela concorrência: o Mestre teve de chamar a si o encargo de modelar integralmente a grande maioria das estátuas e de apoiar-se numa equipa bem escolhida para o secundar e garantir a qualidade dos múltiplos que seguiam para o mercado.
Fábrica Cerâmica das Devesas:
muitas das suas estátuas não apresentavam qualquer marca ou inscrição, noutras foi insculpida frontalmente a sua designação (“MUSICA” cat.115, por exemplo) e aposta lateralmente uma das seguintes identificações de origem (muito semelhantes), ou a simples assinatura de Teixeira Lopes:
* Marcas bem necessárias para distinguir a produção da Fábrica Cerâmica das Devesas da concorrência.
Fábrica de Santo António de Vale Piedade:
* (inc.)
* Marcava as suas peças com inscrições frontais pintadas a azul, com a designação da estátua, e laterais com a marca da fábrica
* http://pt.institutoportucale.com.br
Estas quatro estátuas “Europa” (cat.13), “Africa” (cat.15), “América” (cat.16) e “Oceania” (cat.17), bem como “Azia” (cat.14), “União faz a força” (cat.103) “Amizade” (cat.60), “Bondade” (cat.59), “Estio” (cat.27), “Bailarina com mãos na cinta” (cat. 96), e possivelmente outras, também foram fabricadas na Fábrica Cerâmica das Devesas, fazendo assim parte do conjunto de peças que Teixeira Lopes modelou para a Fábrica de Santo António de Vale Piedade e, posteriormente, integrou no património daquela. (VER 5. segunda fase de estudos E REINÍCIO DE TRABALHOS)
Fábrica de José Pereira Valente
* marcava as suas peças com inscrições pintadas a azul.
À semelhança da Fábrica de Santo António de Vale Piedade, a designação da estátua surgia de frente e as marcas da fábrica lateralmente, mas tudo em letra de maior dimensão e espessura, o que torna as peças da Fábrica de José Pereira Valente fáceis de identificar. Mas, o facto de geralmente a inscrição “FA DEVEZAS” surgir isolada numa face da base da estátua levou (e leva) à sua confusão com a produção da Fábrica Cerâmica das Devesas.
(VER 17.11 COLABORADORES DA FÁBRICA E FACILIDADES CONCEDIDAS A ARTISTAS)
Mas, o melhor critério de distinção das estátuas da Fábrica Cerâmica das Devesas reside na sua superior qualidade.
Teixeira Lopes fazia variantes de algumas estátuas, a pedido ou por sua iniciativa, que por vezes não surgem no catálogo de 1910. Como exemplo, temos dois “Mercúrios”: ambos são iguais no aspecto geral, mas, o primeiro (a que faltam os atributos: asas no capacete e pés e caduceu) tem o braço esquerdo levemente contraído e segura uma bolsa, tendo uma tanga à cintura, enquanto o segundo tem o dito braço plenamente estendido, está desnudo e apresenta os atributos habituais: asas no capacete e caduceu.
* “Mercúrio” (cat. 7) (muito Incompleto), Fotografia do autor
* “Mercúrio” (cat. 7) variante em pedra lioz, Fotografia de José Eduardo Reis (extracto)
Além disso, algumas vezes aproveitava parcialmente um modelo para o transformar numa nova estátua, com nome e número de catálogo diferentes, alterando os respectivos atributos e o posicionamento dos braços, e acrescentando o mais que fosse necessário para individualizar a nova peça. Este método permitia uma grande flexibilidade e maior rapidez na execução de novos modelos.
No exemplo seguinte, que retrata o que foi referido, constata-se que os panejamentos-base são praticamente iguais, bem como os pés, os rostos e os cabelos, diferindo nos pormenores: a segunda estátua apresenta uma mantilha que lhe cobre em grande parte a cabeça, o peito e parte do braço, que se posiciona de forma bem diferente da primeira estátua.
* “Indústria” (cat. 48) (falta o martelo) e “Inverno” (cat. 33) (Falta a mão esquerda) , Catálogo da Leiloeira S. Domingos
Noutro exemplo, em que ambas as estátuas estão em posição inversa da correcta, como se fossem vistas num espelho, a semelhança é flagrante: são a mesma estátua-base, com os diferentes atributos que permitem distinguir as alegorias que representam.
* “Commercio” (parcial) e “Outono” , (Catálogo das Devesas dos anos 1890, que correspondem a cat. 47 e 32, respectivamente, do Catálogo de 1910)
Do conjunto das fábricas que se dedicaram ao fabrico de estátuas para ornamentação nenhuma produziu tanto, quer em quantidade e qualidade, quer em variedade de materiais e de temas.
Não tardou que a Fábrica Cerâmica das Devesas ultrapassasse a concorrência nas escolhas dos clientes e espalhasse a sua reputação ao Brasil e Espanha. A sua estatuária está disseminada em edifícios públicos e particulares, jardins e quintas.
As suas estátuas eram, geralmente, em barro cozido aparente (fosco) branco ou vermelho. No entanto, e com preços superiores, também podiam surgir vidradas em branco (faiança), marmoreadas, matizadas, a imitar pedra, cor de bronze, cor de chumbo, ou pintadas a carácter (as mais dispendiosas). Por encomenda e com orçamento próprio, as estátuas podiam ser executadas em metal (bronze, zinco, ferro, ou outro), pedra, mármore ou lioz, transformadas ou adaptadas, ou ainda criados novos modelos.
A produção estatuária realizada por Teixeira Lopes ou sob a sua supervisão pode, por razões de sistematização, ser subdividida em Secções de obras :
19.1 / ESTATUÁRIA PROFANA
EXEMPLARES ÚNICOS OU COM MÚLTIPLOS EM NÚMERO REDUZIDO
Estátuas públicas civis de D. Pedro V do Porto, de Passos Manuel e do Conde Ferreira. (VER 7.ESTÁTUA D. PEDRO V DO PORTO, 8.ESTÁTUA PASSOS MANUEL e 11. ESTÁTUA CONDE FERREIRA, respectivamente)
Estátua em gesso do rei D. Pedro V, “por ele (Teixeira Lopes) preparada” (sic) enviada à Sociedade Madrépora do Rio de Janeiro em Dezembro de 1862. (1)
Estátua em gesso não identificada que participou na Exposição Internacional do Porto de 1865 (2)
Reduções da Estátua de D. Pedro V do Porto colocadas à venda no Brasil (3)
COM PRODUÇÃO DE MÚLTIPLOS PARA VENDA:
* “Bailarinas” bronzeadas (cat. 94) (cat. 95)catálogo Leiloeira S. Domingos
* “Petiz Ourinando” (sic) (cat.141) catálogo Leiloeira Cabral Moncada
ALEGÓRICAS SEM CONOTAÇÃO RELIGIOSA OU CEMITERIAL :
“A União faz a Força” , “O Filho Pródigo”, estações e meses do ano, rios, continentes, guerreiros, actividades económicas, artes, ofícios, sentimentos, países
*“Estio” (cat. 49 ) e “Amor Paternal” e “Amor Maternal” (1888) (cat. 129) (cat. 128), esverdeadas, colecção e fotografia do autor catálogo Leiloeira P55
* “Inverno” (inc) (cat.29 ), fotografia do autor
* “Indústria” (cat. 44 ), fotografia de José Eduardo Reis
* “Bondade” (cat. 59), fotografia pertença de “ d’orey tiles”
*“Ásia” (cat. 14) e “Europa” (cat.13), fotografias pertença de “ d’orey tiles”
* “América” (inc) (cat.16), catálogo Leiloeira MDS
*“Grupo de Defesa” (cat. 227)(inc) (cat. 45), colecção e fotografia do autor
* “Figura com Cesto” (cat. 99) e “Agricultura” (pormenor), catálogo Leiloeira S. Domingos
MITOLÓGICAS:
referentes às Divindades Greco-Romanas e Entes Fabulosos
* “Commercio” (cat. 43), http://redeazulejo.flul.pt
* “Dragão com Asas” (cat. 273), https://www.wonderful.land/coalhos/
* “ Naiade” (cat. 67), fotografia pertença de “ d’orey tiles”
19.2 / ESTATUÁRIA RELIGIOSA
RELIGIOSA:
Cristos, profetas, santos e anjos:
* “S. Miguel” (cat. 225), “S. Pedro” (cat. 68) e “José no Egipto” (cat. 75), fotografias do autor
ALEGORIAS COM CONOTAÇÃO RELIGIOSA OU CEMITERIAL:
virtudes teologais (Fé, Esperança, Caridade), Consciência, Saudade
*“Fé” (cat. 51), “Consciência” (cat. 55) e “Saudade” (cat 57), fotografias do autor
RELIGIOSAS, EXEMPLARES ÚNICOS
produzidos para diversas localidades:
Teixeira Lopes dotou a sua terra natal e outras povoações dos concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães com várias esculturas. A maioria é constituída por obras realizadas quando o autor tinha menos de catorze anos, que serão assinaladas com (*)
As restantes são de épocas diferentes, mas bem posteriores, e abrangem também outras localidades.
Como quase todas as imagens são em madeira pintada, omite-se tal indicação; relativamente às excepções, será explicitado o tipo de material usado, caso a caso.
* “Senhora das Graças” (5) (6) e “Senhora das Dores” (*) (4) (5), fotos do autor
Capela da Srª da Lapa:
* “Senhor dos Passos” (*) (pormenor) (4) (5)
(4) Figueiredo, Antero– “Jornadas em Portugal”, Livraria Aillaud & Bertrand, 1919, pgs. 259, 260
(5)Tradição oral familiar
(6)Tradição popular
(7) VER 15.BAPTISMO DE CRISTO
(8) (1897) “Cristo em Bronze”, apresentado na Exposição do Grémio Artístico de Lisboa desse ano e na Exposição de Paris em 1900, estando colocado na fachada da capela-jazigo da família Teixeira Lopes em S. Mamede de Ribatua (VER 26.2 EXPOSIÇÕES DE TEIXEIRA LOPES A TÍTULO INDIVIDUAL - 7ª EXPOSIÇÃO DO GRÉMIO ARTÍSTICO – 1897 e EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE PARIS – 1900)
Igreja matriz de Carlão:
* “Cristo crucificado”(*) (altar-mor) (5)(9) e “Senhor dos Passos” (*) (sem a cruz) (4)(5)(9), fotografias retiradas de (9)
Igreja matriz de Cotas
* “Senhora da Soledade”(*) (pormenor) (4), fotografia do autor
Castanheiro do norte e Ribalonga
O Sr. Carlos Araújo Raimundo, de Carrazeda de Ansiães, estudioso do Culto Mariano e bem conhecido na Região, fez o favor de nos guiar nas visitas aos locais de culto do Castanheiro e de Amêdo, apresentando-nos às zeladoras respectivas, tendo também tido a gentileza de nos ceder fotografias de sua autoria.
Em 22 de Dezembro de 2015, enviou-nos a seguinte informação:
“O sr. Virgílio Machado, natural do Castanheiro do Norte, com 84 anos, músico e grande conhecedor da História Local) disse-me ontem o seguinte: “O Teixeira Lopes esculpiu as imagens do “Senhor Da Boa Morte”, Senhor dos Passos e Senhora das Dores, existentes no Castanheiro (4) (6). O mesmo recorreu ao tronco de uma Amoreira que veio do Lugar do Fiolhal, da mesma Freguesia. Um bêbado ao ver passar o andor de Nossa Senhora das Dores sempre exclamava, ao ponto de almas mais recatadas o mandarem calar: "Minha linda Amoreira que tantas vezes em ti comi..."
Curioso que me disse “que lhe parecia que o Teixeira Lopes fez também a Imagem do Senhor dos Passos de Ribalonga”, mas do Concelho de Carrazeda! (6) (10)
Uma zeladora afirmou que a Imagem da Senhora das Dores teria sido feita, em conjunto com outra idêntica para S. Mamede de Ribatua, a partir duma mesma cerejeira. Seja cerejeira ou amoreira, facto é que há duas Senhora das Dores muito semelhantes, uma em Castanheiro e outra em S. Mamede.
Segundo outra fonte, reza a tradição local que há três Imagens de Teixeira Lopes nas suas duas Igrejas, que teriam sido criadas duas pelo “Teixeira Lopes Velho e uma pelo Teixeira Lopes Novo”.
Há aqui a confusão habitual entre Teixeira Lopes Pai e Filho; de facto, não parece que alguma das obras em questão tenha saído das mãos de António Teixeira Lopes, tanto mais que o “Senhor da Boa Morte” não tem qualquer afinidade com os Cristos que se conhecem da sua autoria, apresentando um aspecto geral e pormenores arcaicos que o fazem recuar temporalmente.
Em todo o caso, e, perante a força da memória local, transmitida de geração em geração, e a maior proximidade estilística com José Joaquim Teixeira Lopes, poderá, com reservas, ser-lhe atribuída a autoria desta imagem, tanto mais que se podem observar fortes semelhanças com o “Cristo crucificado” de Carlão, supracitado.
CAPELA DO SENHOR DA BOA MORTE OU CAPELA DE SANTA BÁRBARA:
* Estátua jacente “Senhor da Boa Morte
Igreja paroquial de Castanheiro do Norte:
* “Senhor dos Passos” (*) (pormenor, sem a cruz)
* “Senhora das Dores” (*)
IGREJA DE AMÊDO:
Possui um “Senhor dos Passos” (*) (4), vítima dum criminoso “restauro”, em que foram colocadas novas mãos desproporcionadas e lhes foi aplicado, bem como à cabeça, um oleoso verniz.
ANSIÃO ( DISTRITO DE LEIRIA ), CAPELA DA MISERICÓRDIA:
* “Senhora do Pranto” (11) , fotografia do autor
(9) Moreira, José António; Leandro, António José; Grabulho, Duarte Lourenço - “A Igreja Matriz De Carlão (Alijó) Arquitectura e Espólio Religioso na Arte Rural Transmontana”, pgs.57,59,60,65,69, in European Review Of Artistic Studies 2010, Vol.1, N.3, Pp. 49- 93 Issn 1647-3558
(10) Segundo um funcionário da Câmara de Carrazeda de Ansiães, a Imagem está actualmente numa casa particular, embora seja propriedade da Igreja, por não caber nesta (!)
(11) http://viajandonotempo.blogs.sapo.pt/8494.html. / página visitada em 2 de Março de 2015
PORTO
SÉ DO PORTO:
* “Baptismo de Cristo”, bronze (7)
IGREJA ROMÂNICA DE CEDOFEITA:
*Senhora do Rosário” (12), antiga pagela
VILA NOVA DE GAIA, IGREJA DE MAFAMUDE
Teixeira Lopes foi o autor do retábulo do altar-mor da igreja de Mafamude, cuja figura central é um S. Cristóvão gigante. Seu filho José terá servido de modelo para o menino Jesus.(13)
VALENÇA, CAPELA DA MISERICÓRDIA:
Possui um “Senhor Morto”, pintado por Albino Barbosa, em cartão e tamanho natural (1874) (14) (15)
OUTRAS OBRAS DE PARADEIRO DESCONHECIDO
* “Cristo”, em gesso, Leiloeira S. Domingos
Maio de 1864 - “Senhor dos Passos”, exposto na Igreja do Carmo (Porto) (16)
1865 - Participação com uma “Estátua em gesso” na Exposição Internacional do Porto (17)
1874 - “Cristo em Marfim”, exposto no estabelecimento do dourador José Alva (18), que poderá (ou não) ter ido para o Brasil, caso no Porto não houvesse “Offerta que seu autor julgue sufficientemente remuneradora do seu trabalho” (19)
1887 - “Cena Do Calvário”, gesso de grandes dimensões (apresentado na Exposição de Belas Artes do Porto (20)
1897 - “Cristo”, bronze apresentado na Exposição do Grémio Artístico de Lisboa (21)(22)
(12) Basto, Artur Magalhães – “O autor da estátua de D. Pedro V” in “O Tripeiro” nº 8 , Dezembro de 1951- v série ano vii, pg.171. Desconhece-se se o paradeiro da imagem.
(13) Branco, Emílio Castelo -“Gente de Mafamude - O Sr. José Teixeira “ in “O Tripeiro” ano X Outubro de 1954, pg 186
(14) Leão, Manuel –“A Arte em Vila Nova de Gaia”, Fundação Manuel Leão, 2005, pg. 129
(15) Diário Ilustrado 1 De Abril De 1874
(16) ”O Comércio do Porto”, nº 108, de 14 de Maio de 1864
(17) Catálogo da Exposição Internacional do Porto – 1865, pg 98
(18) Dourador de Madeira- José Alva, Rua de Santo António, 119, conforme “Almanak do Porto e seu Districto para o Ano 1868-69”, Editor José Lourenço de Sousa, Porto
(19) Diário do Rio de Janeiro de 24 De Dezembro De 1874
(20) Leão, Manuel – “A Arte em Vila Nova de Gaia”, Fundação Manuel Leão, 2005, pg. 129
(21) idem
(22) ver (8)
S. LUÍS DO MARANHÃO (BRASIL)
IGREJA DA NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS ( 1902 a 1906 - “Estátuas dos Quatro Apóstolos Evangelistas” )
* imagens obtidas de google street view
* S. Lucas e S. João
* S. Mateus e S. Marcos
Construída em estilo neogótico entre os anos 80 do Século XIX e inícios do XX, para substituir uma Capela, afectada por várias vicissitudes, foi finalmente Inaugurada em 1907.
Apresenta no cimo da fachada principal as “Estátuas dos Quatro Apóstolos Evangelistas”, “valiozo e finissimo trabalho de Escultura de Teixeira Lopes (Pae)”, oferta de dois Portugueses que foram negociantes no Maranhão. (23) (24)
A apreciação de Astôlfo Marques supracitada é visivelmente favorável.
Infelizmente, não foi possível obter fotografias de qualidade, que permitam examinar devidamente estas importantes obras, desconhecidas em Portugal, que aparentam ser em lioz.
Trata-se de peças únicas feitas por encomenda não podendo ser replicadas.
É interessante verificar que nas duas fontes consultadas é expressamente indicada a autoria de Teixeira Lopes, não havendo qualquer referência à Fábrica Cerâmica das Devesas, embora as estátuas tenham sido lá realizadas, conforme evidencia o Painel de Azulejo apresentado abaixo.
(23) Marques, Astolfo, Outubro de 1907, in “Kosmos, Revista Artistica, Scientifica e Litteraria”, nº 10
(24) “O Jornal (do Maranhão)”, 11 de outubro de 1916
Painel de azulejos
Neste Painel de Azulejos, onde é representado Teixeira Lopes na sua oficina, que está colocado na parede em que o quarteirão Sul da Fábrica das Devesas bordeja a rua, distingue-se à esquerda a figura patriarcal do Escultor, de bata, tendo atrás de si algumas peças escultóricas: a pequena figura de homem de corpo inteiro do lado esquerdo que segura uma arma de cano virado para cima corresponde ao “Grupo de Defesa” (cat. 227); mais atrás as obras de maior envergadura são o ”Busto de D. Carlos”(cat. 231) (datado de 1901) (25) e “Tritão e Ave para Repuxo” (cat.136).
Mas, as Estátuas de dimensões maiores que o natural representam os Apóstolos Evangelistas com os respectivos atributos: da esquerda para a direita perfilam-se S. Lucas com o boi, S. Marcos com o leão, S. Mateus com um anjo a falar-lhe ao ouvido e, num plano mais elevado, suportado por duas bancas de trabalho, S. João, não sendo visível a águia que constitui o seu atributo habitual.
Dois artistas (um de pé, junto de S. Lucas, e outro sentado junto do S. João) estão retratados a providenciar retoques finais.
Analisando as quatro Estátuas do Painel e comparando-as com as da Igreja de S. Luís de Maranhão, conclui-se que são indubitavelmente as mesmas.
Tal facto vem permitir datar com alguma precisão este Painel de azulejos, que deve ter sido pintado com base em fotografias.
A importância desta encomenda, que pela sua relevância artística e país de destino, teve impacto suficiente na Fábrica das Devesas para que a respectiva representação em azulejo fosse efectuada com assinalável destaque, e dado que a Igreja de S. Luís estava pronta a ser inaugurada antes de Novembro de 1907, o Painel será certamente bastante anterior a essa data, porque as estátuas teriam de estar prontas e despachadas para o seu destino com bastante antecedência.
O painel foi pintado e colocado na parede-mostruário seguramente após 1901 (atendendo à data do busto do rei acima referido) enquadrado no âmbito das vultuosas obras realizadas na Fábrica, Anexos, Sucursal e Depósito, que lhes conferiram beleza, envergadura e unidade, invulgares em Portugal em unidades industriais.
Neste contexto, será razoável assumir o intervalo 1902-1905 como o mais provável para a confecção do Painel.
Quanto à autoria do mesmo, deve ser atribuída ao próprio Teixeira Lopes.
(25) Ver 21/ Bustos e outras peças escultóricas
19.3 / COLECÇÕES DE ESTÁTUAS EM PORTUGAL
Quinta de São Sebastião / Quinta de São Sebastião da Pedreira / Quinta do Roxo
“Num passado próximo existiam (nesta Quinta) várias estruturas construídas que se perderam tais como: junto ao relvado do primeiro patamar existia estatuária , como uma alegoria de jardim, um São Miguel, uma produção da fábrica das Devesas com a inscrição A. A. Costa & cª e diversas outras como as alegorias às Artes, às Estações do ano, e aos Continentes, oriundas da mesma fábrica”.(26)
Solar dos Macieis (Viana do Castelo)
“Um parente nosso, enobrecendo-se com a ascendência dos Macieis, encomendou, em 1863, na fábrica de cerâmica das Devesas, em Vila Nova de Gaia, quatro estátuas dos heróis da guerra de Tróia (nos quais se pretendiam entroncar estes fidalgos), colocando-as nos acrotérios da platibanda do seu palacete no largo de S. Domingos desta cidade, hoje Museu Municipal (de Viana do Castelo)”. (27)
Este museu actualmente designa-se como Museu de Artes Decorativas. As estátuas referidas não se encontram no local indicado e desconhece-se o seu paradeiro. A ser correcta a data da encomenda (1863), a data de início de actividade da Fábrica Cerâmica das Devesas teria sido anterior às que lhe tem sido atribuídas, hipótese que afastamos. Além disso, se foi, de facto, concretizada a encomenda, as quatro estátuas não foram reproduzidas, não figurando nos Catálogos da Fábrica. Ora, como Teixeira Lopes, entre 1961 e 1864, criou estátuas (VER 5. segunda fase de estudos E REINÍCIO DE TRABALHOS), esta encomenda deve ter-lhe sido feita numa época ainda anterior aos primórdios da futura Fábrica.
Quinta da Costeira (Carregosa, Oliveira de Azeméis)
Classificada como monumento de interesse público, nela existe a capela da Nossa Senhora de Lourdes, que ostenta uma escadaria de acesso com várias esculturas em barro das Devesas. (28)
A “Europa”, a “Primavera”, o “Comércio”, o “Inverno” e a “Sabedoria” marcam presença, de acordo com uma factura de 1907. (29)
Casa da Bouça (Lousada)
O Jardim deste solar alberga uma colecção de estátuas da Fábrica Cerâmica das Devesas, em mau estado de conservação devido à sua longa exposição às intempéries, que representam as quatro estações e os rios Douro e Tejo, sendo que uma delas está assinada. (30)
* “Estio” (cat. 27) e “Rio Douro” (cat. 106), fotografias da publicação referida em (30)
Casa do Chão Verde (31)
António Lourenço Correia, (1828-1879) Brasileiro de "torna-viagem", enriqueceu no Brasil. Regressado a Portugal, investiu o seu dinheiro na construção da Casa do Chão Verde, em Rio Tinto, perto do Porto, onde viveu os últimos anos da sua vida. Os jardins da residência foram recheados de peças cerâmicas, sobretudo estátuas, de várias proveniências, com destaque para a Fábrica de Santo António de Vale Piedade e Fábrica Cerâmica das Devesas, realçando-se esta última pela qualidade e quantidade das suas peças.
Em 1868, Lourenço Correia adquiriu à firma Costa, Breda & Teixeira Lopes onze estátuas e oito medalhões. Estes últimos serão provavelmente efígies em terracota de D. Luís e D. Pedro II do Brasil, em conjunto com seis femininas.
Em 1870, nova encomenda é feita, desta vez à firma A. Almeida Costa & Ca., que sucedeu à anterior: Estátuas “ O Filho Pródigo”, “União faz a Força”, “Pai Cabinda”, doze baixos relevos históricos (oito cenas mitológicas e os quatro elementos da natureza) e oito carrancas, para serem aplicadas à volta do chafariz dito da Náiade, e uma cabeça de cavalo, tudo em terracota.
* fotografias de Tuca Sá
Estes baixos relevos devem ser exemplares únicos, expressamente feitos para Lourenço Correia.
Em 1871, terceira encomenda é feita, à firma A. Almeida Costa & Ca. Consistia em: Estátuas “Portugal”, “Brasil”, “Minerva” e “Silêncio”, dois galgos vidrados, jarrões, taças e vasos. Para além das mencionadas existem outras estátuas: “Comércio”, “Indústria”, “Artes”, “Agricultura”, “Consciência”, “Esperança, “Caridade, “Gratidão”, “Estações”, “Continentes”, “Anjo do Silêncio”, “Judeu Errante”, “Tejo” e “Douro”. Estas poderão incluir certamente as onze não identificadas da encomenda de 1868. De notar que algumas das estátuas estão marcadas duplamente: “Teix.rª” e “Fabrica das Devezas”.
A lista de obras adquiridas por Lourenço Correia à Fábrica Cerâmica das Devesas constitui um conjunto de enorme importância, possivelmente constituindo uma das maiores colecções que existem de obras desta Fábrica, enriquecida pelo facto de algumas das peças que a compõem serem certamente exemplares únicos.
(26) Camara,Teresa (2008) in http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=10421. /página visitada em 12 de Março de 2015
27) Guerra, Luis De Figueiredo – “Tôrres solarengas do Alto Minho” in “O Instituto: revista scientifica e literária,(1925), 4ª série, 1º ano, nº 4, pg. 444
(28) http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/3924581/. página visitada em 20 de janeiro de 2016
(29) Queiroz, Francisco – “Os Catálogos da Fábrica das Devesas”, Chiado Editora, 2016, pg.14
(30) Pedras, Rita – “A Casa Nobre Rural dos Séculos XVI-XVIII no Concelho de Lousada” in “Oppidum” nº 2- 2007. NOTA: A autora atribui erradamente a autoria das seis estátuas a António Teixeira Lopes, quando foi José Joaquim Teixeira Lopes quem as modelou.(31) Domingues, Ana Portela – “A ornamentação cerâmica da Casa do Chão Verde” in “A encomenda. O Artista. A Obra” edição da CEPESE, pgs. 37, segs.
Quinta De Coalhos (Abrantes)
Esta quinta possui uma notável coleção de estátuas das Devesas, que se encontram, não só nos jardins, mas também em nichos e colunas na própria fachada da casa. (32)
* “Agricultura” (cat.41)
Vidigueira
A casa constante da fotografia está ornamentada com seis estátuas das Devesas. Da esquerda para a direita: ”Inverno” (cat. 33), “Commercio” (cat. 47), “Mercurio” (cat. 7), “Outono” (cat. 32), “Estio (cat. 31) e seguramente uma “Primavera”, não identificável.
* fotografia do autor
Midões ( Tábua )
Um notável solar arruinado ostenta estátuas das Devesas representativas das quatro estações:
* fotografia do autor
Ponta Delgada
Na platibanda duma casa da R. Margarida de Chaves estão colocadas três estátuas : “Europa” (cat. 13), “África” (cat.15) e “Ásia” (cat.14). Observa-se a falta duma quarta estátua, que seria obviamente a “América” (cat.16). (33)
O portão do Observatório Afonso Chaves é ladeado pelas figuras “Indústria” (cat.44) e “Comércio” (cat.43) . (33)
(32) https://www.turismo.pt/quinta-de-coalhos.html. / página visitada em 1 de Outubro de 2017
(33) Segundo imagens na posse do autor
19.4 / COLECÇÕES DE ESTÁTUAS NO BRASIL
Já nos referimos em 19.2 às estátuas de S. Luís de Maranhão, tratadas à parte por constituírem uma encomenda específica, não susceptível de replicação.
Pelotas (Rio Grande do Sul)
Apresenta um notável conjunto de estátuas e vasos cerâmicos em faiança da Fábrica Cerâmica das Devesas. Foram estudadas, identificadas e restauradas (ou em curso) as peças existentes nos palacetes (casarões). (34)
Instituto Portucale de Cerâmica Luso-Brasileira (Embú das Artes, S. Paulo)
Reúne a colecção de cerâmica de Camargo de Toledo, que inclui centenas de peças, sendo numerosas as da Fábrica de Santo António de Vale Piedade e da Fábrica Pereira Valente. Foi possível identificar também estátuas das Devesas, que são em muito menor quantidade: “Caridade” (cat. 54 inc.), “Primavera” (cat.26), “Outono” (cat. 28), “Estio” (cat. 35), “Portugal” (cat.92), “Artes” (cat.50 inc.), entre outras. (35)
* “Outono” (cat. 28) , “Artes” (cat.50 inc) e “Primavera” (cat.26), fotografias de (35)
* Conjunto de estátuas em faiança do Instituto Portucale
(34) Scolari, Kelly- « Esculturas em Faiança Portuguesa existentes nos Casarões do Centro Histórico da Cidade de Pelotas, RS » in http://repositorio.ufpel.edu.br:8080/handle/123456789/1048. / página visitada em 5 de Julho de 2015
(35) http://pt.institutoportucale.com.br/. página visitada em 5 de Fevereiro de 2014
Fazenda Chapadão (Campinas, S. Paulo)
Outrora residência do Barão de Itapura, pertence actualmente ao Exército Brasileiro. Possui duas estátuas das Devesas identificadas como representando “Europa” e “Ásia”, “datáveis de 1860”, e que foram recentemente alvo de restauro. (36)
Ouro Preto ( Minas Gerais )
Existem estátuas das Devesas nesta cidade património mundial. Como exemplo, surgem a “Caridade” (cat. 53 inc.) e a “Fé” (cat.51 inc.), juntamente com estátuas da Fábrica de Santo António, na Pousada Vila Rica, todas em lamentável estado de conservação. (37)
Recife
O Colégio Estadual Oliveira Lima ostenta dezasseis estátuas das Devesas nas suas três platibandas. (38)
* fotografia de (38)
Rio Novo ( Minas Gerais) (39)
A Prefeitura Municipal de Rio Novo, através do Departamento Municipal de Cultura e Turismo, realizou há anos uma exposição artística que fez parte do Programa Jornada Mineira do Patrimônio Cultural, promovido pelo estado de Minas Gerais. A exposição aconteceu no Centro Cultural Maria Pinto.
A mostra intitulada “Referências Lusitanas no Patrimônio Local – O conjunto escultórico do Paço Municipal” conta a história do acervo de bens integrados do Prédio da Prefeitura Municipal de Rio Novo. O imóvel possui um conjunto de “esculturas em porcelana de autoria do artista português Mestre Teixeira Lopes”. “As esculturas constam em catálogos de arte editados em Portugal no século XIX e foram comercializadas pela Fábrica de Cerâmica das Devezas, situada em Vila Nova de Gaia (Porto)....”
* Prefeitura Municipal de Rio Novo, fotografia adaptada de https://www.google.pt/search?q=Prefeitura+Municipal+de+Rio+Novo
No lado direito da fotografia na platibanda vê-se “Minerva” (cat.3) e no esquerdo “Marte” (cat.6).
No lado direito da fotografia da fachada junto da varanda está a “Fidelidade” (cat. 63) e no esquerdo poderá ser,“Amôres dominando a força”(cat. 132), que figura no cartaz publicitário.
* “Fidelidade” (cat. 63) e “Amôres dominando a força” (cat.132) , Catálogo Devesas 1910
Manaus
O edifício do Grupo Escolar Nilo Peçanha é encimado por seis estátuas, das quais quatro são das Devesas e foram identificadas graças a uma fotografia que as apresenta em tamanho adequado. (40)
A segunda estátua a contar da esquerda da fotografia é o “Inverno” (cat. 33), a terceira o “Outono” (cat. 32) a sexta a “Primavera” (cat. 30)
Outras Cidades
Em diversas outras localidades, tais como Belém (Pará), Cachoeira (Bahia), Nazaré (Bahia) e Lençóis (Bahia), foram detectadas estátuas em platibandas, mas não foi possível proceder à sua identificação. Muitas outras haverá que não foram objecto de pesquisa no âmbito deste trabalho.
(36) http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/04/impresso_caderno_c/167866-estatuas-do-exercito-sao- restauradas.html / página visitada em 5 de Fevereiro de 2014
(37) http://vanderkrogt.net/statues/object.php?webpage=ST&record=brmg085. / página visitada em 10 de Outubro de 2017
(38) https://antesquesuma.com.br/soledade/escola-oliveira-lima-esculturas/. página visitada em 12 de Outubro de 2017
(39) http://www.rionovo.mg.gov.br/noticias/images/48.jpg. / página visitada em 5 de Fevereiro de 2014
(40) http://www.acritica.com/channels/manaus/news/sede-da-1-universidade-escola-nilo-pecanha-faz- página visitada em 12 de Outubro de 2017
19.5 / DEPÓSITO DE FOTOGRAFIAS DE ESTÁTUAS
Em 1873, Teixeira Lopes e Almeida Costa depositaram separadamente na Academia de Belas Artes de Lisboa colecções de numerosas fotografias de estátuas e de outros produtos fabricados na Fábrica das Devesas. Esta louvável atitude ia ao encontro da necessidade que era sentida naquela Academia de substituir “as más estampas de Julien por fotografias ampliadas das melhores estátuas” a fim de melhorar as condições da aula de desenho elementar. (41)
“O escultor José Joaquim Teixeira Lopes deixou em depósito duas collecções de vinte exemplares de photografias de estatuas de que é autor proprietário as quaes representam: a Caridade, a à Academia de BelasBondade, a Esperança, o Estio, a União faz a força, a Asia, a Fé, a Primavera, o Inverno, o Outono e o Pae Cabinda”
Esta descrição foi afixada em Diário do Governo, em 9 de Abril de 1873. (41)
Igualmente, “António Almeida da Costa residente no Porto depositou nesta data as seguintes fotografias representando esculpturas a saber: o Marquez de Pombal, Vasco da Gama, Garrett, Castilho, Galgos, a Esculptura, Mendigos, Amphitrites, Andromada, Venus, Minerva, Portugal, Brazil, o Commercio, as Artes, a Agriculptura, Talhas, o mez de Março, o mez d’Abril, a Primavera, o Estio, o Outomno, o Inverno, e figurinhas de costumes ( Varinos d’ambos os sexos, o Minhotos idem, Gallegos idem, Lavradores idem, Saloios idem), Salteadores, e o Filho prodigo”(sic). Esta descrição foi afixada em Diário do Governo, em 9 de Setembro de 1873. (41)
Presume-se que as fotografias das estátuas representativas das estações do ano entregues por Teixeira Lopes e Almeida Costa sejam de versões alternativas diferentes.
Se Teixeira Lopes é considerado “autor proprietário” das esculturas cujas fotografias entregou, já com Almeida Costa tal não sucede, não sendo retirada a Teixeira Lopes, assim, a paternidade dessas obras.
Em suma, constata-se que uma grande quantidade da criação estatuária de Teixeira Lopes é anterior a 1873 (bem anterior nalguns casos) ou, no limite, desse ano.
(41) Mendonça, Ricardo « A recepção de escultura clássica na Academia de Belas Artes de Lisboa”, 2014, pg.166, nota 596
19.6/ CRONOLOGIA POSSÍVEL DAS ESTÁTUAS DE FABRICO EM SÉRIE
O Quadro supra apresenta as datas em que são referidas as várias estátuas, assim comprovando documentalmente a sua existência, quer presentes em Exposições, ou adquiridas para a Casa do Chão Verde, ou patentes em Fotografias depositadas.
As que o são pela primeira vez têm fundo azul-claro; as amarelas correspondem a eventual repetição de estátuas já referidas em datas anteriores, ou a versões alternativas das mesmas: sabe-se que as estações do ano, os continentes e os sectores económicos foram moldados em três versões diferentes pelo menos; outras peças tiveram duas versões. Daí deriva a impossibilidade de indicar os seus números de catálogo.
Mas, o facto de uma estátua ser referida num determinado ano não permite inferir que ela não pudesse já existir anteriormente, em data estimada com maior ou menor precisão, conforme o caso:
As onze estátuas compradas para a Casa do Chão Verde, em 1868, foram Integradas na coluna das encomendas de 1871 (desconhecem-se quais são, mas algumas destas estátuas estão marcadas “Teix.ª” e “Fábrica Das Devezas” e serão de 1868 ou mesmo anteriores.
Também é conhecido que as estátuas ”Bondade” (cat.59) e “Amizade” (cat. 60) foram concluídas antes de 1863, visto que serviram de modelo para as estátuas em pedra da Capela António Ribeiro Moreira, que foi terminada nesse ano. (VER 20.1 CEMITÉRIO DA LAPA)
Igualmente, as mesmas estátuas “Amizade” (cat.60), “Bondade” (cat.59), assim como “Europa” (cat.13), “Africa” (cat.15), “América” (cat.16), “Oceania” (cat.17),“Azia” (cat.19), talvez “Portugal” (cat. 92), e possivelmente outras, faziam parte do conjunto de peças que Teixeira Lopes modelou para a Fábrica de Santo António de Vale Piedade e, posteriormente, integrou no património da Fábrica Cerâmica das Devesas. Todas elas são datáveis entre 1860 e 1863. (VER 5. SEGUNDA FASE DE ESTUDOS E REINÍCIO DE TRABALHOS e 19. ESTATUÁRIA DIVERSA- Fábrica De Santo António De Vale Piedade )
Presume-se que as fotografias das estátuas representativas das estações do ano entregues por Teixeira Lopes e Almeida Costa sejam de versões alternativas diferentes, até porque os dois certamente se concertaram sobre quais as fotos a entregar, e quanto às restantes imagens não há duplicação das mesmas...
A maioria das obras deve ser anterior a 1873, tanto mais que Teixeira Lopes tinha começado a trabalhar por conta própria em 1858 e cedo já disporia de modelos de estátuas (nomeadamente as usadas em Vale Piedade).
A atribuição da data de 1871 à compra da “Caridade” para a Casa do Chão Verde levanta uma
questão: sendo 1873 o ano em que a “Caridade” para o “Monumento Campeam” foi apresentada a concurso à Misericórdia, em duas versões, uma das quais foi rejeitada (VER 10. MAUSOLÉU
CAMPEAM ) e deve ter sido comercializada logo nesse mesmo ano (cat. 53), enquanto que a
outra que foi aprovada certamente não entraria no circuito comercial antes da inauguração do
Mausoléu com a Estátua em Mármore que lhe correspondia, o que ocorreu em 1874. Só é possível
que a Casa do Chão Verde tivesse adquirido uma “Caridade” (cat. 53) em 1871, se ela já existisse
nessa data e fosse presente a concurso dois anos depois. É estranho, mas é a hipótese que faz sentido...
Constata-se, assim, que entre cerca de 1860 e 1873, Teixeira Lopes acumulou uma razoável quantidade de modelos de estátuas, pelo que, desde os seus primórdios, a Fábrica Cerâmica das Devesas dispunha de um acervo com um leque de opções que continuaria em expansão, constatável no Catálogo de 1910, que elenca cerca de 160 estátuas.