JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
José Joaquim Teixeira Lopes (conhecido como Teixeira Lopes, Pai, e também como o Sr. Teixeira de Mafamude, onde residiu durante longos anos (2), nasceu em S. Mamede de Ribatua, Concelho de Alijó, em 25 de Fevereiro de 1837, no seio duma família de proprietários agrícolas e afamados artífices.
S. Mamede de Ribatua é uma povoação muito antiga, que, após ter sido couto monástico da Sé de Braga, obteve foral em 1262 e está localizada a meio caminho da estrada que liga Alijó à Foz do Tua e à Estação do Tua, verdadeiro ninho de águia alcandorado no alto do desfiladeiro do Rio Tua, a cerca de 400m de altitude, e enquadrada por montes cobertos de vinhedos, olivais e pinhais, pontuados por reputados laranjais nas zonas mais abrigadas.
O cenário envolvente é de rara beleza, para a qual muito contribuem os violentos contrastes entre os dantescos fraguedos ribeirinhos e as plantações que até ele descem em incontáveis socalcos de xisto, única forma de dominar e aproveitar para fins agrícolas a inclinadíssima encosta!
* Desenho de António Teixeira Lopes, representando uma entrada de S. Mamede de Ribatua em 1908 (colecção de familiar do autor e fotografia deste)
* Quadro de azulejos pintado por José Joaquim Teixeira Lopes, circa 1880, representando a sua aldeia natal ( Colecção e fotografia do autor )
José Joaquim era filho de António Teixeira Lopes (nascido em 21/11/1813) e Ana Águeda Cardoso e foram seus avós paternos Manuel Teixeira Lopes (nascido em 1784) e Ana Lopes e maternos Joaquim Lameiras e Águeda Cardoso, todos de S. Mamede de Ribatua. (2)
Este Manuel Teixeira Lopes foi o primeiro da família a usar os apelidos Teixeira Lopes, por junção de nomes de seu pai António Teixeira (falecido em 1819, tendo feito testamento) e sua mãe Maria José Lopes Meireles (1750/1821). António Teixeira era filho de Gonçalo Teixeira (falecido em 1774) e de Maria Vaz (falecida em 1788). Os dois cônjuges eram membros de Ordem Terceira de S. Francisco, e fizeram testamento, instituindo parte do património legado em “bens de alma”, destinados a assegurar, mediante a celebração de cerimónias litúrgicas, a salvação eterna do doador, ou das pessoas por ele designadas. Nos respectivos funerais foram amortalhados com o hábito de S. Francisco, sendo as missas fúnebres oficiadas por oito padres. Tais factos evidenciam o elevado estatuto sócio-económico do casal.
Foram padrinhos de baptismo de José Joaquim seu avô Manuel Teixeira Lopes e sua tia Maria José Lopes. A família era numerosa: José Joaquim Teixeira Lopes teve pelo menos onze irmãos, segundo a tradição familiar, que só reteve alguns nomes: Raquel, Henriqueta, Delfina, Joana, Manuel, João, Júlio e o Coronel....
* Retrato de António Teixeira Lopes, desenhado em 1893 por seu neto e afilhado o Escultor António Teixeira Lopes (colecção de familiar do autor e fotografia deste)
* Assento de nascimento de José Joaquim (ADVR)
Seu avô Manuel “era tanoeiro e torneiro” (e lavrador), “mas topava a todas as artes, sempre com destro jeito e gôsto afinado”. O pai, “ferreiro e músico (e lavrador), fazia o que queria: umas vezes trabalhava de carpinteiro ou de marceneiro, outras compunha ou construía instrumentos de metal e de madeira; e sempre das suas mãos habilidosíssimas saiam peças bem acabadas”. E um seu tio “João Teixeira Lopes, notável (mestre) “espingardeiro” (e lavrador) “que fez a campanha da Cristina, atirava-se a tudo: um dia deu-lhe para fazer o relógio da torre da igreja paroquial de São Mamede, e com tal segurança e arte se houve que funcionou muitas dezenas de anos” (3)
Com tal carga genética, muito naturalmente José Joaquim Teixeira Lopes herdou a invulgar habilidade manual dos seus familiares. O mesmo se pode referir relativamente a outros membros das famílias Teixeira Lopes e Pereira de Meireles (que se uniram aos Teixeira Lopes por casamento) que serão aqui oportunamente mencionados.
Desde muito novo, Teixeira Lopes se entretinha a esculpir em madeira pequenas imagens, inicialmente com um simples canivete. “Aos 13 anos, já esculpia imagens do Senhor dos Passos e da Nossa Senhora da Soledade” (3) e Cristos na cruz ou jazentes e Senhoras das Dores, entre outras imagens. (4)
“E sem jamais ter visto um desenho ou uma escultura dignos desse nome, José começa a trabalhar a madeira com uma rara habilidade, esculpindo diversas imagens ingénuas e incorrectas, evidentemente, mas várias delas revelando uma expressão justa e um sentimento religioso pronunciado”. (5)
“Nas igrejas de Cotas, de Alijó, de Carlão, de Castanheiro do Norte, de Amêdo”, de Azevedo, de Ribalonga (Carrazeda), etc., “gerações de homens e de mulheres teem rezado devotamente a essas imagens expressivas, feitas, aliás, a goiva e formão pelas mãos ingénuas de uma criança que ninguém ensinara e se servia da ferramenta inadequada do tio espingardeiro”. (3)
Improvisou-se assim escultor e, embora inculto e rodeado de gente ignorante, mas cercado por um cenário de Natureza deslumbrante, possui os dons de uma viva inteligência, uma vontade firme, uma rara sensibilidade e um poder de observação que o estimulam a prosseguir um caminho artístico. (5)