JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
“Influenciado por alguns íntimos e reconhecendo ele próprio a vocação artística de seu filho, o pai acaba por consentir que ele siga a carreira e ... reúne algum dinheiro para pagar a entrada do rapazinho como aprendiz no ateliê do Professor” de escultura Manuel da Fonseca Pinto (20/12/1802-5/10/1882), do Porto, futuro Director da Academia Portuense de Belas Artes, “escultor medíocre, mas gozando duma certa notoriedade” (1)
* Retrato de Manuel da Fonseca Pinto. Miniatura em guache sobre marfim pintada em 1851 por Francisca Almeida Furtado (1826-1918) (acervo do Museu Nacional de Arte Antiga).
Foi autor de vários bustos, de que se destacam o de D. Pedro IV, com o qual participou na Exposição Trienal da Academia Portuense de Belas Artes de 1848 e que foi muito elogiado, e o de D. Maria II, além de numerosas estátuas religiosas.
Em 14 de Maio de 1842, foi nomeado por Carta Régia Lente da cadeira de escultura da Academia Portuense de Bellas Artes e Director desta Academia, em 29 de Janeiro de 1864, mantendo-se em funções até ao seu falecimento.
Este escultor foi ainda contratado pelos comerciantes de Tabaco para adornar a “Real Escuna” que ofereceram a D. Miguel, tendo executado várias figuras alegóricas e mitológicas e baixos-relevos de ornato para a popa, proa e lados da dita embarcação de recreio; a vasta decoração e os dourados criaram um conjunto harmonioso, que tornou conhecido o escultor.
Passou então a executar obras de talha para os veleiros construídos nos estaleiros do Ouro e Gaia. (2)
Com treze anos, Teixeira Lopes iniciou, de forma bem árdua e meramente prática, a sua aprendizagem artística (1850). (3)
O Mestre Fonseca dirigia, nos estaleiros, os trabalhos de escultura que decoravam soberbamente as proas dos últimos navios de grande tonelagem, majestosos e ornamentados, das galeras, das escunas e de outros barcos à vela.
No estaleiro, ao ar livre, o novel artista entalhava com um machado as figuras e esculpia em madeira sereias, anjos, guerreiros, figuras mitológicas e carrancas desenhadas grosseiramente por Fonseca, sobre cartão, sem esquissos nem estudos preliminares, do primeiro jacto, “trabalho brutal e difícil de verdadeiro forçado, como dirá mais tarde o artista, e que lhe permite aprender - finalmente - a profissão em pouco tempo”.(3)
Teixeira Lopes procurou complementar os estudos/trabalhos com alguma preparação teórica que o pudesse valorizar profissionalmente, tendo, para o efeito frequentado a Escola industrial, onde se matriculou em desenho linear, em Janeiro de 1857, dado como residente no Corpo da Guarda, no Porto, tendo sido aprovado no exame de 31 de Julho do mesmo ano, sendo considerado escultor. (4)
Mas, “algo desencorajado pela escassez de trabalho, numa época de declínio da navegação à vela” (as figuras de proa dos navios de coberta cessaram de ser fabricadas em 1875) e “saudoso da família, regressa à terra natal, onde continua a esculpir imagens religiosas, com técnica mais apurada na arte de esculpir em madeira após os anos de tirocínio no Porto”.(5)
(1) Mourão, Ramiro – “Exposition de Travaux de Teixeira Lopes (père), sculpteur et céramiste”, Edition des Amis du Monastère de La Serra do Pilar (1933), pgs. 5,6 - (versão francesa manuscrita, tradução de responsabilidade do autor)
(2) Furtado,Thadeu D’Almeida - “Manoel da Fonseca Pinto” in “A Arte Portugueza” nº 9, Setembro de 1882, pgs. 75 a 77
(3) Mourão, Ramiro, idem pgs 7,8
(4) Portela, Ana – “Devesas: as origens históricas da fábrica de cerâmica que mais marcou as fachadas de Ovar, in “dunas, temas & perspectivas revista anual sobre cultura e património da região de Ovar”, edição Câmara Municipal de Ovar, 2004, pg.67
(5) Lemos, José Maria de Sá – “Teixeira Lopes-Pai – Apontamentos para a sua História”, in Boletim dos Amigos de Gaia, Outubro de 1980, pg. 20