CERAMISTA, ESCULTOR E FUNDADOR DA QUINTA VILA RACHEL
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
A Fábrica Cerâmica das Devesas fez-se representar desde muito cedo em Exposições e outros Certames, Nacionais e Internacionais, com diversos produtos da sua actividade, nomeadamente com as estátuas alegóricas e figuras de terracota pintadas da autoria de Teixeira Lopes, que também participou diversas vezes a título individual. O que bem evidencia o seu papel determinante na condução da laboração artística da Fábrica, a sua reserva de autonomia em relação à firma e, reciprocamente, o seu permanente empenho relativamente à mesma. O escultor apresentava frequentemente a público peças da sua autoria, que, posteriormente, seriam produzidas em série pela Fábrica.
26.1/ EXPOSIÇÕES DA FIRMA A. A. COSTA & C.ª
A Empresa fez várias exposições publicitárias nas suas próprias instalações.
A título de exemplo reproduz-se uma notícia breve da “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, de 15 de Novembro de 1877: “É hoje a abertura da grande exposição de produtos da Fabrica Ceramica das Devezas. Convida-se os membros da imprensa e o respeitável publico, a vir examinar os vários artefactos, tudo obra da palheta do distincto esculptor portuguez José Joaquim Teixeira Lopes, autor da memoria de D. Pedro V.” (sic) (1)
Esta mostra incluía uma colecção de pequenas figuras de costumes (2)
EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE VIENA 1873
Foi a primeira vez que a Fábrica Cerâmica das Devesas esteve presente num evento internacional capaz de lhe permitir alargar o seu mercado, através da apresentação dos seus produtos. A empresa preparou-se atempadamente, tendo Teixeira Lopes criado peças especificamente para este certame: a mais conhecida é a estatueta “O Mendigo” que, aliás também teve papel de destaque na Exposição de Filadélfia, como se verá. (3)
EXPOSIÇÃO DO CENTENÁRIO EM FILADÉLFIA (1876)
Na classe 206, a Fábrica das Devesas apresentou tijolos, pedestais, colunas e balaústres.
Na classe 207, mostrou materiais de construção: tijolos, mosaicos, azulejos e canos, referindo-se que os seus principais mercados são Portugal, Brasil e Espanha.
Na classe 400, a fábrica expôs 18 figuras em porcelana e barro. Como informações adicionais, é considerada fundada em 1869 (?), emprega 80 homens (com salários entre 360 e 1000 reis), 15 mulheres (160 a 300 reis) e 26 crianças (120 a 300 reis), tem uma produção anual no valor de 28,600 $ 000 reis, para a qual utiliza matéria-prima doméstica avaliada em 4,000 $ 000 reis.
O comentário seguinte espelha bem a estranheza e agrado com que a crítica americana encarou as numerosas estatuetas de costumes apresentadas e a sua singularidade:
“Muito notáveis eram as únicas e engraçadas figurinhas de barro pintado, por vezes agrupadas numa cena humorística, outras vezes sozinhas, e ilustrativas dos trajes e costumes nacionais. O humor que os portugueses infundiram na sua arte levou a que a secção de cerâmica do seu pavilhão na Exposição do Centenário fosse a sua maior atracção; e combinada com excelentes modelação e cores, cuja natureza dificilmente podemos especificar, excitou a nossa curiosidade em conhecer os antecedentes históricos artísticos que possam ter existido para a arte que agora escolhe tal expressão” (Tradução livre, da nossa responsabilidade) (4)
A participação nesta exposição constituiu um marco importante na divulgação da Fábrica, pelo destaque que lhe foi conferido pelo pavilhão de Portugal, onde se evidenciavam muitas das suas peças, conforme é atestado pelas estereografias seguintes:
* É bem visível em primeiro plano à direita a estatueta “Mendigo”. Notam-se diversas outras peças da Fábrica.
* São bem identificáveis as estátuas alegóricas em primeiro plano: a “América” (cat 25), à esquerda, a “Ásia” (cat 23), à direita; em segundo plano , a “África” (cat 24), à direita, e, à esquerda, a “Europa” (cat 22).
EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE PARIS 1878
A Fábrica Cerâmica das Devesas participou com barros pintados representando costumes nacionais. (5)
(1) “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, de 15 de Novembro de 1877
(2) Leão, Manuel –“A Arte em Vila Nova de Gaia”, Fundação Manuel Leão, 2005, pg. 129
(3) O Commercio do Porto”, nº 30 de 5 de Fevereiro de 1873
(4) Young, Jennie – “The Ceramic Art. The History and Manufacture of Pottery and Porcelain”; New York, Harper & Brothers publishers, 1878, pg. 239
(5) “Catalogue Spécial de la Section Portugaise”, groupe III, classe céramique, pg 28
EXPOSIÇÃO PORTUGUESA NO RIO DE JANEIRO 1879
A Fábrica Cerâmica das Devesas participou com “ceramicas” (sic) (6) e Figuras de barro representando costumes (7)
A participação portuguesa a nível de esculturas foi “razoável”, apontando-se as “ausências dos nomes mais sonantes da escultura nacional na época, como Soares dos Reis e José Teixeira Lopes, embora este último não terá, certamente, deixado de estar representado na categoria de cerâmica, sócio que era, da fábrica das Devesas, em Gaia e uma das participantes premiadas” (8)
Obteve uma medalha de prata (9)
EXPOSIÇÃO CERÂMICA DO PORTO – 1882
Foi promovida pela Sociedade de Instrucção do Porto, liderada por Joaquim de Vasconcellos, e levada a cabo no Palácio de Cristal. A revista “Occidente” acompanhou a exposição e o seu cronista Manuel Rodrigues dedicou-lhe um artigo, que se publica aqui, na parte em que se debruça sobre a Fábrica Cerâmica das Devesas. Refere-se a esta em termos elogiosos, bem como aos seus responsáveis. (10)
De notar que são exibidas “tentativas felizes de azulejos polychromes”, não destinados a revestimentos, mas sim, constituindo quadros decorativos ou retratos. Em nenhuma exposição anterior houve qualquer referência a este tipo de peças, pelo que poderá significar que a respectiva produção seria recente. No entanto, já em 1873, Teixeira Lopes tinha feito painéis de azulejos historiados a azul e branco, relatando a vida de S. Vicente, que foram instalados na Igreja dedicada a este santo em Braga. (11)
O sucesso dos painéis levou, assim, Teixeira Lopes a ensaiar (com êxito) a policromia, como se constata em 24.1 AZULEJOS FIGURATIVOS.
“O Comércio de S.Paulo” também dedica ao certame uma circunstanciada notícia, donde se extrai o seguinte fragmento:
“… Os outros expõem grande numero de typos e costumes das nossas aldêas ruraes e maritimas. A fabrica das Devezas expõe além d’isso diversos grupos, como são: a morte do porco, e o carro de bois (bem visível na fotografia infra). A esculptura que esta fabrica exhibe, torna-se notavel pela correcção de linhas e naturalidade de expressão, sem exaggeros, e a pintura accusa um aturado estudo…(sic) (12)
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(10)
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Joaquim de Vasconcellos elenca a colecção exposta pelas Devesas na área das grandes peças decorativas para jardins e pátios: “...vasos de várias dimensões, fontes, repuxos, cercaduras de taboleiros, centros, floreiras em ponto grande e peças de ornamentação para pateos, entradas de casas, e escadas, etc...” ... “Uma mesa que é, verdadeiramente, antes um trabalho de mosaico com fragmentos de azulejo, do que azulejo no sentido vulgar. É de grandes dimensões: 3 metros e 32 de comprimento, por 1,46 de largura. É um trabalho de primeira ordem, com uma bellisima policromia...”
A fábrica também expôs “ quatro quadros com azulejos de figura, entre os quais se destaca o de uma camponeza do Minho encostada à sua canastra; como tentativa em desenho de figura é a melhor da exposição, posto que a obra não seja isenta de defeitos...Retrato do snr. Costa..., muito semilhante e bem pintado em duas chapas e uma paisagem azul, que merece especial louvor. É a vista de um rio que serpenteia pelo terreno, formando ilhas; á direita sobre a margem levantam-se as ruinas de um castelo alteroso...” (13)
A nível de “biscuits” são salientadas “...bilhas e canecas...ornadas de ramos de vinhas e cachos, perfeitamente modelados....”
São também expostos “bustos muito notáveis...especialmente o de Alexandre Herculano caracterizado com superior talento. Não se faria melhor em qualquer paiz estrangeiro.”
Finalmente, sobre as figuras de costumes, elogia-as considerando que são “...verdadeiros primores, como o typo da mulher de Vianna do Castello, e o grupo do carro de bois nacional....” (13)
(5) “Revista da Exposição Portuguesa no Rio de Janeiro em 1879”, Responsável: Dr. Domingos J. B. de Almeida,1879, pg. 185
(6) “Gazeta da Noite”, Rio de Janeiro, 14 de Agosto de 1879
(7) Neto, Maria João – “A Exposição Portuguesa no Rio de Janeiro em 1879: Ecos de um Diálogo entre Arte e Indústria” in “Oitocentos, Intercâmbios Culturais entre o Brasil e Portugal”, Tomo III, pg 368, ed CEFET/RT 2ª ed., Rio de Janeiro, 2014
(8) Magalhães, Cristiane Maria – “Indústria, Técnica e Arte da Azulejaria, Faiança e Cerâmica: o mobiliário luso-brasileiro dos jardins no período eclético do paisagismo brasileiro”, não paginado in https://www.academia.edu/23733261/Ind%C3%BAstria_T%C3%A9cnica_e_Arte_da_Azulejaria_Faian%C3%A7a_e_Cer%C3%A2mica_o_mobili%C3%A1rio_luso-brasileiro_dos_jardins_no_per%C3%ADodo_ecl%C3%A9tico_do_paisagismo_brasileiro. / página visitada em 16/04/2016
(10) “ Occidente”, 6º ano, vol. VI, nº 150, de 21 de Fevereiro de 1883, pgs. 20,45,46
(11) Leão, Padre Manuel – “A Arte em Vila Nova de Gaia”, pgs 119,segs.
(12) “0 Comércio de S.Paulo”, de 13 de Novembro de 1882
(13) Joaquim de Vasconcellos – “Ceramica Portugueza” Serie II, Porto, 1884, pgs. 59; 62, 73, 91, 100
Nota: Relativamente aos azulejos de figura, as descrições de Manoel Rodrigues e Joaquim de Vasconcellos divergem: aquele refere uma mulher com uma criança ao colo, o retrato de um rapaz e o retrato de Costa imitando o desenho a carvão. Não foi possível obter uma terceira versão, que poderia esclarecer (ou não) estas discrepâncias.
Cfr ainda : Cardoso, Nuno Barros – “Sociedade de Instrução do Porto (1880-1889) in ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9666.pdf, pgs 16,seg
EXPOSIÇÃO AGRÍCOLA DA TAPADA DA AJUDA – 1884
Esta exposição, que propiciou grande visibilidade à Fábrica no meio lisboeta, originou o reforço da sua posição na capital, a que não será também estranha a obtenção duma medalha de prata.
A apresentação foi muito abrangente, englobando exemplos de praticamente todas as suas áreas de produção, quer artística ou ornamental, quer de louça sanitária ou de material de construção. Peças recuadas (como a “União faz a força”) também foram expostas. (14)
EXPOSIÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA – 1888
(15)
EXPOSIÇÃO INDUSTRIAL PORTUGUESA – 1891
Esta exposição teve lugar no Palácio de Cristal do Porto e teve por finalidade mostrar a evolução das empresas industriais portuguesas. Na área da cerâmica, a Fábrica das Devesas é salientada. (16) (17)
EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE ANTUÉRPIA -1894
A participação consistiu na exibição de estatuetas e grupos. Foi premiada com uma Medalha de cobre. (18)
EXPOSIÇÃO AGRÍCOLA E INDUSTRIAL DE GAIA – 1894
Por ocasião dos festejos que celebraram o 5º centenário do nascimento do infante D. Henrique, e querendo também neles participar, Gaia organizou uma exposição agrícola e industrial, através duma comissão presidida pelo médico Dr. Artur Ferreira de Macedo. Pretendia-se mostrar aquilo que o concelho de melhor produzia a nível artístico, agrícola e industrial. (19)
A Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devesas expôs, na secção de louças, louça de uso corrente, “...grupos em biscuit e metal, figuras de barro coloridas, typos populares, typos de rua – o lavrador e a lavradeira maiatas, o agente policial, o vendilhão ambulante, o malandrim – vasos, amphoras, potes ornamentaes, grande quantidade de artefactos em barro e grez para construcção, vasilhame de grez, etc.”... “os trabalhos alli produzidos são excelentes, rivalisando com muitos do estrangeiro”. (19)
EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE PARIS – 1900
Almeida Costa & C.ª participou com materiais de construção e sanitários e numerosas estatuetas representando os tipos dos camponeses do Norte de Portugal. (20)
EXPOSIÇÃO CERÂMICA DO PORTO – 1901
A Fábrica das Devesas expôs no Palácio de Cristal dezenas de peças, que cobrem a quase totalidade da sua variada produção, à excepção das grandes estátuas para exterior, que primam pela sua ausência, o que se afigura estranho: se fosse um problema de espaço, bastaria levar poucos exemplares para amostra, nem que isso significasse sacrificar ligeiramente a área afecta aos materiais de construção... A menos que já se sentisse uma menor apetência por este tipo de peças. (21)
EXPOSIÇÃO NACIONAL DO RIO DE JANEIRO – 1908
As Devesas expõem faianças e materiais de construção (22), numa exposição com características extraordinárias: o único país estrangeiro convidado foi Portugal e El-Rei D. Carlos solicitado para estar presente, a convite do Presidente brasileiro; mas, o infausto regicídio tal não permitiu. (23)
O filho de Teixeira Lopes, o escultor António, exibiu obras suas, tendo a sua estátua em gesso “Comércio”
sido colocada à entrada do Pavilhão Português (neomanuelino). (24)
RECOMPENSAS RECEBIDAS (25)
* Extracto da capa dum Catálogo da “Fabrica Ceramica e de Fundição das Devezas”, posterior a 1898
Dois prémios do Governo e três diplomas de mérito - Palácio de Cristal do Porto - 1882
Medalha de prata na Exposição Agrícola da Tapada da Ajuda – 1884
Medalha de prata na Exposição do Rio de Janeiro – 1879 (e não 1887, que não existiu)
Medalha de cobre na Exposição de Antuérpia – 1894
Medalha de ouro na Exposição Agrícola e Industrial de Vila Nova de Gaia – 1894 (a publicidade refere, por lapso, 1896)
Medalha de ouro e Diploma de Honra da grande comissão da Exposição “por ser esta fábrica a maior e mais bem montada do país” na Exposição Industrial do Palácio de Cristal do Porto – 1897
RECOMPENSAS RECEBIDAS APÓS O REFERIDO CATÁLOGO POSTERIOR A 1898
Medalha de Prata na Exposição Universal De Paris – 1900 (26)
(14) Catálogo da Exposição Agrícola de Lisboa 1884, Editora Imprensa Nacional, 1884
(15) “ Occidente”, 11º ano, vol. XI, nº 350, de 11 de Setembro de 1888, pg. 203
(16) idem, 15º ano, vol XV, nº 471, de 21 de Janeiro de 1892, pg. 22
(17) “Vitoria Regia e seu significado para a arquitetura e para a história cultural da indústria e comércio; Joseph Paxton (1803-1865), o Palácio de Cristal e suas repercussões na Austrália, Portugal e Brasil”, in http://www.revista.brasil-europa.eu/119/Paxton.html página visitada em 30 de junho de 2015
(18) Conforme (25) RECOMPENSAS RECEBIDAS
(19) Firmino, Pereira “Centenário do Infante D. Henrique”, editores Magalhães & Moniz, Porto, Março de 1894, pgs.158, 159
(20) “ Rapports du Jury International”, pg. 79 “Céramique”, que refere terem a Fábrica e a sucursal da Pampilhosa cerca de 600 trabalhadores
(21) “Catalogo da Exposição de Ceramica promovida pelo Instituto Portuense de Estudos e Conferencias efectuada no Palacio de Crystal..”, pgs. 31 a 35, Porto, ed. 1901
(22) Seixas dos Santos, Regina Maria – “Portugal na Exposição Nacional do Rio de Janeiro – 1908”, Dissertação de Mestrado, FLUP, 1999, pg. 176
(23) Idem, pg. 136
(24) idem pgs. 189 e 192
(25) RECOMPENSAS RECEBIDAS de acordo com a capa dum Catálogo da “Fabrica Ceramica e de Fundição das Devezas”, s/ data, mas anterior a 1900, já que não refere a Exposição Universal De Paris – 1900
(26) “ Rapports du Jury International”, pg. 77 “Céramique”
26.2/ EXPOSIÇÕES DE TEIXEIRA LOPES A TÍTULO INDIVIDUAL
Teixeira Lopes participou em diversas Exposições a título pessoal, desligado da Fábrica Cerâmica das Devesas, sem prejuízo de várias das peças de arte por si apresentadas terem vindo a ser, mais tarde, incorporadas no Catálogo da Fábrica.
EXPOSIÇÃO INDUSTRIAL DO PORTO – 1861
Teixeira Lopes expôs um “busto em gesso, em tamanho natural”, obtendo uma medalha de cobre (27)
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DO PORTO – 1865
Teixeira Lopes apresentou uma “estátua em gesso”. (28)
Trata-se da “União faz a força”.
EXPOSIÇÃO DA ACADEMIA PORTUENSE DE BELAS-ARTES - 1866
* Catálogo da exposição
* ”Bondade” (cat.59), “Amizade” (cat. 60) e “Indústria (cat. 48)
* “Comércio” (cat. 47) , “Rio Douro” (cat.106) e “Pai Cabinda (cat.274)
Para identificar as estátuas foi utilizada a sua altura, indicada no catálogo, nos casos das figuras alegóricas com modelos alternativos. Todas as obras de Teixeira Lopes apresentadas a público nesta Exposição foram integradas na produção da Fábrica, à possível excepção do Cristo em pedra, que não é claro que seja igual a qualquer um dos três referenciados no Catálogo de 1910, que, aliás têm todos dimensões diferentes daquele (o gesso original pertence ao Museu Nacional de Soares dos Reis).
Constata-se, assim, que a Fábrica das Devesas já dispunha de estatuária de notável qualidade desde os seus primórdios. A escultura mais importante e de maior impacto foi, sem dúvida “União faz a força”, já descrita em 9. A FORMAÇÃO EM PARIS
EXPOSIÇÃO DA ACADEMIA PORTUENSE DE BELAS-ARTES – 1869
* Catálogo da exposição
* “O Filho Pródigo” (cat.122) (Casa-Museu Teixeira Lopes)
Destas duas obras, moldadas em ambiente académico, destaca-se “O Filho pródigo”, que valeu ao seu autor a obtenção do 1º prémio do Concurso Magno Trienal de Escultura (29).
A obra ficou exposta na Academia durante anos para servir de exemplo aos estudantes. (30)
Houve quem admitisse que Teixeira Lopes se tivesse inspirado no “Desterrado” de Soares dos Reis, dado haver algumas semelhanças de pose e de melancólica meditação entre as duas figuras. (30)
Tal não é, contudo, possível, dado que “O Filho pródigo” é anterior a 1869 e o “Desterrado” data de 1872.
EXPOSIÇÃO DA ACADEMIA PORTUENSE DE BELAS-ARTES - 1887
Teixeira Lopes expôs um gesso de grandes dimensões “Cena do Calvário” (31) e, na qualidade de coproprietário da Fábrica de Cerâmica das Devesas, apresentou um centro de mesa em barro cozido com 90 cm de altura. (32)
7ª EXPOSIÇÃO DO GRÉMIO ARTÍSTICO – 1897
Teixeira Lopes apresentou um apreciado Cristo em bronze (33)(34)
EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE PARIS – 1900
Teixeira Lopes participou com um baixo relevo em bronze, dois medalhões - retratos, um dos quais em bronze, e um Cristo e um busto, ambos em bronze (35)(36) e dois bois em tamanho natural, pintados a carácter para simularem o natural, ligados a um atrelado, ou seja , um carro de bois, feitos a pedido de seu filho António, mas que acabaram por constituir o resultado duma parceria entre ambos, com ajuda do amigo Edouard Houssim (37) (38)
É muito provável que o Cristo em bronze seja o mesmo que foi exposto na 7ª EXPOSIÇÃO DO GRÉMIO ARTÍSTICO – 1897, dado o pouco tempo decorrido entre as duas exposições.
* Cartão de expositor, (Casa-Museu Teixeira Lopes)
A pedido da comissão portuguesa, presidida por Arnaldo Ressano Garcia, António realizou um grupo em gesso “Agricultura”, com uma estátua de vindimadeira, em tamanho natural, a despejar uvas para uma dorna, para figurar na entrada da secção portuguesa da Exposição relacionada com este tema.(38)
O “Carro de Bois “ e o grupo “Agricultura” renderam 6000 francos, suficientes para pagar todas as despesas de viagem e de estadia em Paris.(38)
* “Carro de Bois”
* “Agricultura”
Teixeira Lopes viajou para Paris, a fim de visitar a Exposição. Aproveitou para levar consigo a esposa Rachel, seus filhos António e Elisa, e o neto José Marcel, de pouco mais de dois anos. Acompanhavam este grupo o Major Agostinho Figueiredo, velho amigo da família.
Na fotografia:
Da esquerda para a direita; primeira fila: José Joaquim Teixeira Lopes, sua esposa Rachel, seu neto José Marcel e duas crianças francesas e o Major. Segunda fila: António Teixeira Lopes, Madame Étourneau ( tia-avó de Jeanne, a falecida esposa do arquitecto José Teixeira Lopes e mãe de José Marcel), uma parente francesa e três senhoras também francesas, que asseguraram a cozinha e a limpeza do apartamento que António Teixeira Lopes tinha arrendado para a ocasião, junto do seu ateliê da Rua Denfert-Rochereau.
Rachel estava em Paris pela primeira vez e, para além de querer visitar a cidade, manifestou a vontade de ir a S. Denis ver os túmulos dos reis de França, que ela muito apreciou. Naturalmente, visitou várias vezes a Exposição, que tanto a encantou! Interessou-lhe, em particular, a aldeia suíça e as incubadoras de recém-nascidos prematuros. (38)
As refeições eram regadas com bom vinho português, que arranjavam na Exposição. Após os jantares, os homens reuniam-se num café próximo, na Rue de l’Óbservatoire, com amigos portugueses, como o Dr. Alfredo de Magalhães e o Dr. Correia de Barros.
D. Rachel beneficiou da amável companhia de três senhoras portuguesas que também se encontravam em Paris: D. Amélia Faria Guimarães e as irmãs D. Aurélia e D. Sofia de Sousa, notáveis pintoras, em particular a primeira, que manteriam ao longo da vida estreita amizade com a família Teixeira Lopes. (38)
António Teixeira Lopes refere nas suas “Memórias”: “Meu pai expusera poucas coisas no grande certâmen, obtendo, ainda assim, uma medalha de bronze. (37)
Estou bem convencido que faria sucesso mesmo, se conseguisse exibir ali algumas das suas melhores obras. Fôra um verdadeiro temperamento de escultor e revelara isso muitas vezes”. (sic) (38)
Seu filho António (escultor), que participou com algumas das suas melhores esculturas, “História”, “Caridade, “Santo Isidoro”, “Portas para a Igreja da Candelária”, “Viúva”, “Caim”, “Dor”, entre outras, e um grande centro de mesa em prata, em cuja modelação seu pai participou, obteve o “Grand-Prix”. (35) (36) (37) (38)
Seu filho José (arquitecto) apresentou uma escultura : “Cabeça de garoto”. (35)
Também seu sobrinho Joaquim Pereira de Meireles (escultor) participou neste magno evento com o gesso “Martírio”. (35)
EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DOS 80 ANOS DE TEIXEIRA LOPES (1917)
Esta festa de homenagem é abordada no Capítulo 28. COMEMORAÇÃO DOS 80 ANOS, foi organizada por seus filhos na que viria a ser a Casa-Museu Teixeira Lopes e compreende uma parte significativa da sua prolífica vida de trabalho. (39)
HOMENAGEM PÓSTUMA E EXPOSIÇÃO PROMOVIDA PELOS AMIGOS DO MOSTEIRO DA SERRA DO PILAR (1933)
Esta exposição abrangeu grande parte da sua obra, num total de 106 peças, que incluiu 27 estatuetas de costumes (40)
(27) ”O Comércio do Porto”, nº 264, de 16 de Novembro de 1861, e nº 70, de 26 de Março de 1862
(28) “Catálogo Official da Exposição Internacional do Porto em 1865”, Typographia do Commercio, pg. 98
(29) Portela, Ana Margarida -“ A Fábrica de Cerâmica das Devesas– percurso biográfico dos seus principais artistas”, in “Artistas e Artífices e sua Mobilidade no Mundo de Expressão Portuguesa”, edição Cepese, 2007, pg. 45
(30) Tradição oral familiar
(31) Leão, Padre Manuel – “A Arte em Vila Nova de Gaia”, pgs 129
(32) Catálogo da Exposição da Academia Portuense de Belas-Artes de 1887, pg. 52
(33) Ribeiro Artur, Bartolomeu -” Arte e Artistas Contemporâneos”, pg 269
(34) Catálogo da Exposição
(35) “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, de 10 de Abril de 1900
(36) Figueiredo, José de - “Portugal na Exposição de Paris”, ed. Em 1901, pg 122
(37) “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, de 2 de Setembro de 1900
(38) Lopes, António Teixeira – “Ao Correr da Pena Memórias duma Vida”, ed. em 1968 pela Câmara Municipal de Gaia, pgs. 242, 246, 247, 253
(39) Brandão, Júlio – “Festa de amor e de arte – no atelier de Teixeira Lopes” in “Atlântida” nº 16, de 15 de fevereiro de 1917, pg. 245, sgs
(40) Correia, Ramiro - “Exposition de travaux de Teixeira Lopes (père), sculpteur et céramiste” (adaptação em francês manuscrita pelo autor), catálogo