CERAMISTA, ESCULTOR E FUNDADOR DA QUINTA VILA RACHEL
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
Em 24 de Fevereiro de 1917, Teixeira Lopes completou 80 anos de idade e os filhos homenagearam-no com uma festa, com a presença da família e amigos, e uma exposição com muitos dos seus trabalhos reunidos por seu filho António, em jeito de memória de uma vida de trabalho devotada à arte. (1)
Júlio Brandão visitou o ateliê de António Teixeira Lopes nesse mês e testemunha:
“fui encontrar Teixeira Lopes numa tarefa piedosa e enternecida- que tambêm me enterneceu. O artista preparava uma surprêsa a seu pai, que neste Fevereiro álgido completa oitenta anos. O filho quere celebrar o dia augusto do aniversário com uma festa familiar de amor e de arte, deliciosa e comovente; e a surprêsa consiste na reunião do maior número de trabalhos artísticos do pai, na sua grande parte dispersos ou lamentávelmente perdidos.” (2)
e continua tecendo considerações sobre a pessoa de José Joaquim Teixeira Lopes:
“... os oitenta anos ainda não encaneceram de todo as belas barbas de patriarca, porque aquele corpo tem tido sempre a tonificá-lo contra as lutas duma vida longa, de trabalho honesto e árduo, a rara fortaleza da sua alma, o lume vivo, e constantemente benéfico, do seu coração antigo... êste homem ilustre, que voluntáriamente se apaga na sua modéstia, tem vindo a esbanjar perduláriamente...o seu grande talento e o seu afecto admirável... o pai Teixeira Lopes recorda-nos, na bonomia atraente e na interemata nobreza moral, certas figuras portuguesas, que Júlio Dinis ainda fixou soberanamente...” (3)
e sobre a exposição e a homenagem:
“ ... deparam-se-nos maquettes preciosas, barros duma expressão incomparável, estatuetas de costumes, bronzes de arte, azulejos e desenhos. Predominam os esbocetos de obras que foram levadas, quem sabe para onde, mas que não se imagina como vibram ainda na rapidez do escôrço!
tudo isso ressurgirá, como por encanto, em 24 dêste Fevereiro álgido, aos olhos de José Joaquim Teixeira Lopes... nessa linda homenagem, que a piedade filial do grande escultor vai prestar ao artista ilustre que é seu pai, estou a ver os olhos marejados dos dois, ao abraçarem-se longamente...” (2)
Este seria o derradeiro tributo que José Joaquim Teixeira Lopes recebeu em vida e que, decerto, calou bem fundo no seu espírito sensível.
(1) Lopes, Manuel Ventura Teixeira – “Biografia de Mestre Teixeira Lopes” dactilografada, pg. 134
(2) Brandão, Júlio – “Festa de amor e de arte – no atelier de Teixeira Lopes” in “Atlântida” nº 16, de 15 de fevereiro de 1917, pg. 248
(3) idem, pgs 246, 247