JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
* O casal Teixeira Lopes, fotografia do livro “Memórias” de António Teixeira Lopes
Em 2 de Dezembro de 1857, Teixeira Lopes casou-se com a sua prima em terceiro grau Rachel Pereira de Meireles (01/05/1841-04/11/1912), de dezasseis anos, filha de António Pereira Rabacinho e Maria da Conceição de Meireles, importantes proprietários e negociantes a nível local. Foram seus avós paternos João Pereira Lopes e Maria José Rabacinho e maternos António José de Meireles e Quitéria Rosário Cardoso, todos de S. Mamede de Ribatua. (conforme registos do Arquivo Distrital de Vila Real)
Foi um casamento de amor que durou cinquenta e cinco anos e em que a dedicação mútua do casal foi constante e reconhecida por toda a família e amigos. (1) (2) A família Pereira era há gerações produtora de vinhos do Porto e de mesa e de azeite. O pai de Rachel deu-lhe como dote uma propriedade apreciável, onde os noivos passaram a residir. (3) Rachel foi ainda a herdeira da casa da família, uma grande casa rústica do século XVIII, hoje infelizmente em ruínas.
“Entretanto, o artista sente mais do que nunca a imperiosa necessidade de se instruir e, apesar da sua ligação ao lar e à sua terra, pensa constantemente em regressar ao Porto, para continuar, ou melhor, para encetar estudos sérios”. (3)
Teixeira Lopes considerou que, permanecendo na terra natal, além de não conseguir evoluir na sua capacidade técnica e no conhecimento teórico, também não conseguiria sustentar a família a fazer santos de madeira para o reduzido mercado regional.
O casal decidiu então vender a dita propriedade, para custear a sua ida e instalação no Porto, onde José Joaquim irá encetar sérios estudos de escultura e desenho, que lhe possam permitir realizar o seu sonho de se tornar um escultor de mérito. “Ao tomar esta intrépida decisão, os jovens transmontanos estão bem longe de pressentir que conseguirão – a custo de mil sacrifícios – edificar, não somente um futuro próspero para si mesmos, mas ainda tornar possível para a arte nacional portuguesa a existência duma família ilustre. “(3)
Ramiro Mourão refere que a Teixeira Lopes nasceram dois filhos (Maria e Emília), prematuramente falecidos. Tendo ele contraído casamento em 2 de Dezembro de 1857, era inviável ter tido dois filhos em S. Mamede. É possível que aí tenha nascido uma primeira filha chamada Maria, que teria falecido antes de Julho de 1859, uma vez que o mesmo nome foi atribuído à filha que nasceria em 8 de Julho de 1859. (4)
No entanto, não foi encontrado o assento de baptismo da paróquia de S. Mamede. O mesmo autor relata que Teixeira Lopes e família teriam vindo para o Porto em 1860, instalando-se na Praça da Alegria. (3)
Na verdade, em Julho de 1859, Teixeira Lopes e família já estão instalados no Porto, na Rua 23 de Julho (actual Rua de Santo Ildefonso), onde nasceu sua filha Maria (08/07/1859), sendo padrinhos de baptismo António Pereira Júnior, seu avô materno, residente na Rua da Boavista, e João Martins Gomes, residente na Rua 16 de Maio (actual Rua dos Mártires da Liberdade). (4)
Em 1860, residem na Praça da Alegria, onde nasceu sua filha Adelaide (17/11/1860 - 30/12/1946), sendo padrinhos de baptismo seus avós maternos, residentes na Rua de Miragaia, 146, sendo ele negociante, tendo a madrinha sido representada pela sua procuradora Adelaide Teixeira, solteira, residente na rua da Boavista. (4)
Em 1863 mudam-se para a Rua do Almada, onde nasceu sua filha Emília (??/08/1863-04/04/1864) (5)
Instalam-se depois na Rua de Miragaia, nº146, onde nasceu outra filha também chamada Emília (23/04/1865 - 9/12/1952) sendo padrinhos de baptismo António Almeida da Costa e Luis José Nunes, ambos residentes na Rua do Laranjal, Porto. (4)
Em 1866, seu filho António (27/10/1866-21/06/1942) nasceu acidentalmente em Gaia, sendo padrinhos de baptismo o avô paterno e madrinha Emília da Jesus Costa, esposa de António de Almeida Costa, e sendo os pais dados como residentes na Estação das Devesas (?). (4)
Em 1870, já residiam na Rua do Laranjal, 169, que viria a fazer parte do Depósito Geral, Escritório e Oficina de artefactos de Mármore da Fábrica das Devesas, que englobava também a adjacente antiga casa de Almeida Costa, nºs 171-175. (6)
Aí nasceram sua filha Ricardina (??/??/1870 - 27/02/1870) e seu filho Júlio (12/10/1870-18/10/1870). (5)
Em 1872, residindo na Rua do Laranjal, nasceu seu filho José (28/02/1872-26/02/1919), sendo padrinhos de baptismo Joaquim Pereira Meireles, solteiro, escultor, morador nas Devesas, e Maria da Conceição Pereira Meireles, solteira, moradora na Rua do Laranjal (4)
Em 1875, moravam na Rua Marquês Sá da Bandeira – Vila Nova de Gaia. (7)
Aqui nascem suas filhas Elysa (1/3/1876 - 13/1/1942), sendo padrinhos de baptismo seu tio Eduardo Pereira de Meireles, solteiro, empregado dos Caminhos de Ferro e a prima da baptizanda Elysa Pereira de Meireles, solteira, residente em Gaia, Maria Raquel (29/3/1878 - 15/7/1971), sendo padrinhos de baptismo o tio paterno João Teixeira Lopes, escultor, e sua mulher Marcelina Cardoso Garróte, moradores nas Devesas, (4) e Vírginia (1880) (7) (8)
A Teixeira Lopes e Raquel sobreviveram-lhes os seguintes filhos:
Adelaide que casou com Albino Barbosa (23/08/1854 - 24/07/1920), pintor, que colaborou com Teixeira Lopes na Fábrica das Devesas e, mais tarde, com seu filho António. Teve descendência.
Emília que casou com Adelino Sá Lemos (1869 – 19/04/1941), que se especializou na fundição de bronzes, tendo colaborado com os Teixeira Lopes (Pai e Filho) e criado uma empresa de sucesso nesse ramo. De notar que Emília estudou na Academia Portuense de Belas Artes, o que revela a abertura de espírito e modernidade de seu pai, numa época em que era raro as mulheres estudarem no ensino superior. Teve descendência: entre outros, o escultor José Maria Sá Lemos.
António, escultor, que casou com Adelaide Lucinda Fontes Soares (1871-1951), que estudou na Academia Portuense de Belas Artes. Teve um casamento fugaz, tendo-se separado, embora nunca se tenha divorciado. Sem descendência.
José, arquitecto, casou em primeiras núpcias com Jeanne Marie Émilie Bégaut (1875 - 08/09/1899)
e, em segundas núpcias, com Emília Ernestina da Silva (1869-1952), pintora e professora. Teve descendência em ambos os casamentos.
Elysa (1/3/1876 - 13/1/1942) casada com Alberto Oliveira Rocha (? - ?), filho de Feliciano Rodrigues da Rocha, sócio da Fábrica Cerâmica das Devesas. Teve descendência.
Maria Raquel (9) casou com Abílio Oliveira Rocha (?- 4/9/1944 ), também filho de Feliciano Rodrigues da Rocha. Teve descendência.
(1) Lemos, José Maria de Sá – “Teixeira Lopes-Pai – Apontamentos para a sua História”, in Boletim dos Amigos de Gaia, Outubro de 1980, pg. 20
(2) Mourão, Ramiro, “Exposition de Travaux de Teixeira Lopes (père), sculpteur et céramiste”, Edition des Amis du Monastère de La Serra do Pilar (1933), pg. 7 - (versão francesa manuscrita, tradução de responsabilidade do autor)
(3) Mourão, Ramiro, idem pgs.7,8, 8b
(4) conforme registo do baptismo
(5) Leão, Manuel - “A arte em Vila Nova de Gaia”, Gaia, edição da Fundação Manuel Leão, 2005, pgs. 116, 129
(6) Capa do Catálogo da “Fábrica Ceramica e de Fundição das Devezas”, Porto,1898 . (VER 18. CATÁLOGOS DAS DEVESAS)
(7) Leão, Manuel – idem, pg. 130
(8) Não foi encontrado o assento do baptismo na freguesia de Mafamude, onde residiam os pais. Poderá ter sido baptizada em casa in articulo mortis.
(9) Nota: foi registada apenas como Maria