CERAMISTA, ESCULTOR E FUNDADOR DA QUINTA VILA RACHEL
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
* Grupo « Os Pais » obra de António Teixeira Lopes (fotografia colecção do autor)
* Álbum das bodas de ouro de José Joaquim Teixeira Lopes e Rachel Pereira de Meireles (D. Rachel Meireles Teixeira Lopes), (Colecção da Casa-MuseuTeixeira Lopes
* Fotografia de família tirada por Albino Barbosa no dia das bodas de ouro
Os íntimos da família Teixeira Lopes conservam a memória do ambiente de ternura no qual os dois esposos celebraram as suas bodas de ouro, em 3 de Dezembro de 1907, no meio do respeito e da veneração de todos os que os conheciam.
Para descrever os festejos nada melhor que recorrer aos escritos de dois netos de José Joaquim que os abordam (José Marcel e Manuel Ventura), tendo sido respeitado o essencial, pelo que os textos foram apenas objecto de pequenos cortes e ligeiras alterações para melhor compreensão por parte do leitor actual:
“Os seus filhos António e José deram uma festa, na que é hoje a Casa-Museu Teixeira Lopes, para festejar as bodas de oiro de seus Pais. Esta festa, bem organizada, embora com um carácter um tanto mundano, não deixou de se revestir dum alto sentimento familiar, muitíssimo comevedor…” (1)
Realizou-se uma missa solene na Igreja de S. Cristovão de Mafamude, com a presença de toda a família e amigos (2)
Teve lugar no programa um sarau, a que assistiram numerosos artistas e figuras gradas da sociedade do Porto e de Gaia, tendo actuado o quarteto formado por Bernardo Moreira de Sá, violinista, Óscar da Silva, compositor e pianista, Carlos Dubini, violinista e Guilhermina Suggia, violoncelista de renome internacional. O grande pianista Luís Costa executou peças de Beethoven e Brahms, (1), o seu delicioso “Conto de Fadas” e a “14ª Rapsodia hungara de Liszt”. Moreira de Sá, acompanhado por sua talentosa filha Leonilda, tocou as “Czardas” de Hubay. (3)
Fizeram-se ouvir coros ensaiados por Luís Costa, que dirigiu “Dans la foret” e “Souvenir” de Mendelssohn. Do mesmo compositor foi cantada a “Barcarola”, por Camillo de Macedo e Wan Kricken, acompanhados no orgão pelo professor Xisto Lopes. (3)
Os discípulos de António Teixeira Lopes (José de Oliveira Ferreira, Alves de Sousa, Diogo de Macedo e Pinto do Couto) representaram a “Ceia dos Cardeais” e António Teixeira Lopes recitou Victor Hugo. (1) (2)
À ceia, servida pela Confeitaria Oliveira, fizeram-se brindes aos queridos Velhos e, nesse momento, sempre comovente, os amigos irromperam pela sala, brindando aos noivos de há cinquenta anos. Eles também se quiseram associar aos brindes e os festejados beberam pela mesma taça em vermeil com pedras, em estilo bizantino, oferta do joalheiro José Rosas. (1) (2)
A Mãe, contente com aquela esfusiante felicidade que se espalhava à sua volta, não podia suster as lágrimas e abraçava os filhos, chorando, bondosa, velhinha que sempre cumpriu, na terra, um tão nobre destino! O marido chorava, também, mas não de tristeza, porque só alegria havia nas suas lágrimas. Olhava, enternecido, a esposa, os filhos e os 22 netos que o rodeavam. (1)
O último neto, futuro escultor Manuel Ventura Teixeira Lopes, tinha sido baptizado, nesse dia, em missa de festa que se realizara na mesma igreja de Mafamude e que tivera a assistência de muitos amigos e de toda a família. Foi seu padrinho o arquitecto Ventura Terra e, na vela, pela sua madrinha Nossa Senhora da Conceição, pegou o insigne pintor Veloso Salgado. (1)
Dia maravilhoso aquele, que deixou grata recordação a todos que assistiram a essa festa. Que noite admirável e inolvidável! (1)
A casa estava toda ornamentada com belas orquídeas e as porcelanas resplandeciam nos móveis antigos. A assistência distinta espalhava-se pelos enormes e belos salões e, por toda a casa se respirava uma atmosfera festiva de paz e alegria, que bem pode ter um só nome:
Felicidade (1)
* Poema alusivo escrito pela actriz Emília Eduarda (colecção do autor)
(1) Lopes, Manuel Ventura Teixeira - “Biografia de Mestre Teixeira Lopes”, dactilografada, 1966, pgs.103, 104, 105
(2) Lopes, José Marcel Teixeira Lopes – “Teixeira Lopes íntimo e a bela época de 1900”, dactilografado, s/ data, pgs. 34,35
(3) “ A Arte Musical”, Lisboa, 15 de Dezembro de 1907 pg. 267