JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
* Manuel da Silva Passos (Passos Manuel), óleo sobre tela de Silva Oeirense (atr.), c. 1840 (Museu Soares dos Reis, Porto)
Passos Manuel, cujo verdadeiro nome era Manuel da Silva Passos, era natural de Guifões, Matosinhos, onde nasceu em 5 de Janeiro de 1801, tendo falecido em 18 de Janeiro 1862, em Santarém. Foi um dos expoentes do liberalismo em Portugal. (1)
Em Fevereiro de 1862, estava constituída uma comissão representando a população de Leça, Matosinhos e Bouça encarregada de homenagear Passos Manuel, através da construção duma estátua condigna, a localizar no largo junto à ponte que ligava Matosinhos a Leça na antiga alameda. (2)
Dois anos depois, anunciava-se que “Já chegou da capital o marmore para a estatua” (3)
A construção do monumento foi adjudicada a Almeida Costa, que entregou a modelação da estátua a Teixeira Lopes, à semelhança de anteriores colaborações, que seria “esculpturada em marmore, com a altura de 2 metros e vinte centímetros. O pedestal é de granito, na altura de três metros e cinquenta centimetros”. (4) (5)
Esta obra constituiu uma inovação na estatuária portuguesa, uma vez que foi a primeira a representar um civil, em espaço público não cemiterial. Até então, só tinham sido erigidas estátuas de monarcas.
A estátua de mármore de corpo inteiro está colocada em cima de um plinto, em granito, que ostenta uma lápide com a legenda “À memória de Passos Manuel erigiram este monumento seus conterrâneos, 24 de Agosto de 1864”. Esta foi a data de inauguração.
O político surge sem chapéu, com a perna esquerda em descanso, apoiando-se com a mão direita por cima dum livro fechado (que representa a legislação de 1836) pousado num pedestal. (6)
O monumento era rodeado por uma vedação de colunas de pedra interligadas por gradeamento de ferro, que se harmonizava perfeitamente com a estátua e a protegia, conferindo-lhe simultaneamente maior dignidade. (7)
Infelizmente a estátua foi removida do seu local original e está actualmente colocada na Praça Passos Manuel, tendo lamentavelmente perdido o característico gradeamento.
O monumento foi alvo de algumas críticas desfavoráveis, como é normal, sendo que uma se reportava ao seu suposto ar algo cemiterial, devido a ter sido executada em mármore.
Ramalho Ortigão viria a ser um dos críticos do monumento, argumentando que a estátua tinha algumas deficiências e que a semelhança com a figura do ilustre político era fraca, embora concedendo que a sua vestimenta, nomeadamente a sobrecasaca largueirona e de mau talhe, era fiel ao conhecido desapego de Passos Manuel às vãs e transitórias mundanidades. (8)
Mas, o Professor da Academia Portuense de Belas Artes Francisco José Resende saiu em defesa da estátua e do seu autor:”...entendemos conscienciosamente que é excelente em relação a outras que temos visto, feitas em Portugal. Não nos parece desproporcionada nem incorrecta. Deveria estar voltada para o Oceano: não quizeram assim, mas a obra do artista nada tem com a vontade das pessoas que o honraram com uma encommenda de tão subido quilate. ... Podemos enganar-nos a respeito da intelligencia do snr. Teixeira, mas se nos culparem por isso, defender-nos-hão algumas das suas obras” (sic). (9)
(1) http://www.fundacaopassoscanavarro.pt/passos-manuel-e-garrett/passos-manuel/biografia / página consultada em 14 de Fevereiro de 2014
(2) “Jornal do Porto” de 4 de Fevereiro de 1862
(3) “Jornal do Porto” de 16 de Fevereiro de 1864
(4) “Diario do Rio de Janeiro” de 14 de Outubro de 1863
(5) 2,50m a estátua e 3,50m o pedestal, segundo Leão, Manuel – “A Arte em Vila Nova de Gaia”,pgs 24, 25
(6) “Guia Historico do Viajante no Porto e arrabaldes “, Livraria e Typographia de F. G. da Fonseca, 1864, pg.189 matosinhosantigo.blogspot.pt/2009/07/passos-manuel-em-guifoes.html / página consultada em 14 de Fevereiro de 2014
(7) Ramalho Ortigão – “As Praias de Portugal”, pg. 64
(8) “O Comércio do Porto” de 16 de Dezembro de 1865