JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES, ESCULTOR E CERAMISTA
por António Teixeira Lopes da Cruz, Proprietário da Quinta Vila Rachel.
data da publicação: 1 de Março de 2023
* “A União faz a Força”, colecção e fotografia do autor
“As qualidades estimáveis que o jovem artista, ainda simples estudante de desenho, revelou na concepção da estátua de D. Pedro V, tornam o seu nome conhecido e em breve se torna vedeta”.(1)
A Sociedade Madrépora do Rio de Janeiro (criada em 1863), “reconhecendo que um tal desempenho merecia ser encorajado, deliberou conceder-lhe uma bolsa para ir aprofundar os seus estudos de escultura em Paris”. (2)
“Teixeira Lopes aceitou a bolsa com entusiasmo e parte (em Novembro de 1864) para Paris, fazendo a viagem por mar, em 3ª classe para economizar, sofrendo muito das ternas recordações que levava da sua família e do enjoo! “(2)
A sua mulher está grávida da filha Emília, que nasceria em 23/04/1865, situação que certamente o deixou bastante preocupado.
O escultor entendeu dever publicar uma nota de despedida dirigida aos seus amigos e parentes, “...dando a todos um adeus de gratidão e saudade e offerecendo-lhes o seu limitado préstimo...”. (3)
Em Paris, na École Impériale et Spéciale des Beaux-Arts de Paris, as preciosas lições do escultor Jouffroy levaram-no a fazer rápidos progressos e a ganhar em pouco tempo a estima e a consideração do Mestre. (4)
* François Jouffroy (5)
Este nasceu em Dijon em 1 de Fevereiro de 1806 e faleceu em Laval em 25 de Junho de 1882.
Renomado escultor, que viu a sua obra ser reconhecida em vida, obteve várias encomendas oficiais, de que se pode destacar “l’Harmonie” (na figura infra) para a fachada da Ópera Garnier de Paris. Foi distinguido com diversas honrarias: premiado nos Salons, membro de l'Institut, oficial da Légion d'honneur, professor na École des Beaux-arts.
Dentre os seus muitos alunos, viriam a destacar-se Alexandre Falguière, Louis-Ernest Barrias, (que viria a ser professor do escultor António Teixeira Lopes, filho de José Joaquim Teixeira Lopes) e António Soares dos Reis (seu discípulo de 1867 a 1870)
Obras de Jouffroy:
* “l’Harmonie” Fachada da Ópera Garnier, Paris (12 )
* “Premier secret confié à Vénus” Museu do Louvre, Paris (13)
Jouffroy fez-lhe um elogio caloroso quando Teixeira Lopes terminou a estátua “A União faz a Força”, que também foi muito apreciada por Soares dos Reis e pelas críticas francesa e portuguesa. (6)
A estátua esteve presente na Exposição de 1865, no Palácio de Cristal, no Porto, nº 1459 da classe de Escultura, com a singela designação “Uma estatua em gesso”. (7)
O seu antigo professor Francisco José Resende fez-lhe um rasgado elogio: “Devem agradar aos entendedores todos os perfis da estatua do snr. Teixeira, a naturalidade das formas geraes, a liberdade com que a obra foi esculpida, a aproximada ideia que dá do modelo nú que o snr. Teixeira copiou na eschola imperial de Paris, debaixo da direcção de Mr. Jufrois, e ainda mais as proporções e o modo como estão indicados os musculos e os ossos, sem haver a dureza ou o arredondado em que geralmente cahe o estatuario, o pintor ou o desenhador…" (sic) (8)
* “A União faz a Força”, colecção e fotografia do autor
A obra teve detractores, como geralmente sucede com os artistas quando são bem sucedidos:
“A inveja e a deslealdade pululam entre certos meios artísticos e atingiram Teixeira Lopes. O seu mestre Jouffroy escreveu uma carta, em que elogiando Soares dos Reis, não deixa de certificar a qualidade do perfil de Teixeira Lopes, enquanto foi seu discípulo, em Paris. A carta foi publicada, mesmo no texto original, como defesa pública do artista, por mão do seu mestre. (9)
“Mas, as saudades da família são tão grandes, que este sucesso – obtido menos dum ano após a sua chegada a Paris – vem-lhe dar o pretexto para uma viagem de férias a Portugal (em meados de Outubro 1865), com a intenção, contudo, de regressar à grande capital onde ele deixa, entre os seus colegas de escola, verdadeiros amigos, conquistados pelo seu carácter leal e afectuoso convívio”. (10)
Muitos anos depois, quando o seu filho António foi, por sua vez, estudar em Paris, as simpatias que o seu pai tinha deixado junto de numerosos artistas ser-lhe-ão preciosas. (10)
Infelizmente, esse regresso para continuar a aprofundar os seus estudos num meio tão propício, como era o de Paris, não se verificou. Teixeira Lopes esteve, assim em Paris de Novembro de 1864 a meados de Outubro de 1865, com uma interrupção: o artista já teria estado em Portugal em meados de 1865, por ocasião do baptismo da sua filha Emília (segunda do nome) (11)
Esta decisão de renúncia teve como consequência não ter o escultor desenvolvido as suas capacidades artísticas até ao elevado patamar que, certamente teria podido e tão desejaria alcançar.
Há que considerar que Teixeira Lopes, apesar da bolsa e do auxílio de familiares, tinha dificuldade em suprir as necessidades de sua mulher e filhos, pelo que teve de optar por permanecer em Portugal e trabalhar para garantir a subsistência da família em condições razoáveis (11)