O QUE A CIÊNCIA DIZ
De que forma o tipo de agricultura que se faz influencia o sabor, a nutrição dos nossos alimentos e consequentemente a nossa saúde?
Nos dias que correm saber o que comer influencia tremendamente a nossa escolha por determinados alimentos produzidos em determinados sistemas agrícolas. Devido à expansão de tipos de agricultura hiper-intensivos, a qualidade dos alimentos provenientes deste tipo de agricultura deixou de ser tão nutricional e de ter um sabor tão aprazível quanto um alimento produzido segundo técnicas agroecológicas. Segundo o que a ciência tem vindo a estudar a qualidade dos solos e o seu respectivo microbioma são essenciais para se obter alimentos nutritivos e saborosos. Na agricultura mono-intensiva o microbioma e o respectivo solo são relegados para segundo plano através da aplicação intensiva de práticas culturais, agrotóxicas e de ausência de biodiversidade. Ora, estando esta comunidade de micróbios ( fungos, bacterias, protozoários, etc ) relacionados com a produção de nutrientes, e se esta é enfraquecida através de práticas agrícolas anti-naturais, os alimentos produzidos serão também obviamente afectados.
DUAS FORMAS DE AGRICULTURA MUITO DISTINTAS
A diferença entre o nosso azeite e o que é proveniente de agricultura mono-intensiva é bastante grande. As nossas azeitonas são cultivadas de forma biológica e natural, sem qualquer produto químico incluindo pesticidas, herbicidas ou fertilizantes artificiais. Tentamos que a agricultura seja o mais selvagem possível para enriquecer o microbioma do solo, e por consequência, conseguirmos azeitonas muito saborosas. Ao invés disso, num olival mono-intensivo, o conceito de biodiversidade é relegado para segundo plano, e os químicos usados irão danificar todo o microbioma do solo, afectando o sabor e a qualidade nutricional das azeitonas. Outra grande diferença é que a maior parte das nossas Oliveiras são centenárias ( algumas tri-centenárias ) em comparação com as Oliveiras de cultura mono-intensiva que não têm mais de dez anos de idade. Passados esses anos são cortadas para plantar novas porque a partir dessa idade a quantidade de produção diminui consideravelmente. A diferença é que nas Oliveiras centenárias a produção é mais pequena e por isso com muito mais qualidade. O fruto tem propriedades mais concentradas.
Um caminho enganador
A procura de beleza estética na agricultura pode ser um caminho perigoso. Ao longo dos anos tive a possibilidade de visitar diversas Quintas e conhecer Agricultores do mundo inteiro. Nessas visitas, quando converso com as pessoas tento sempre aprender algo de novo com elas. Em muitas situações efectivamente aprendo, noutras parece-me que é mais ao contrário. No entanto há um padrão de pensamento que tenho reparado que é sempre mais ou menos permanente. Os agricultores tendem geralmente a praticar agricultura sob um molde estético, ou seja, muitas das suas decisões são definidas através de uma projecção de um qualquer ideal de beleza. Se a erva está muito alta há que cortar porque senão fica feio. Se a rama da videira está grande há que a cortar toda senão fica desorganizada e por isso fica feio. Se há material vegetativo no chão a cobrir o solo, há que o retirar do pé das árvores senão o vizinho começa a dizer que fica feio. Este conceito do “fica feio” é infelizmente a ideia mais comum no mundo rural. Há sempre esta inclinação a tratar os campos de cultivo como se fossem os Jardins de Versailles. Nada mais errado.